Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas nasceu no município de Oliveira, no Estado de Minas Gerais, em 9 de julho de 1879, de família tradicional de proprietários de terras, dedicados à pecuária e ao cultivo de cana-de-açúcar e café, era filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas.
Ingressou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo formado em engenharia. Em 1896, adoentado e reprovado nos exames, voltou para Oliveira e, enquanto se recuperava, seu tio Carlos fortaleceu sua vontade de ser médico e o ajudou a vencer a barreira de sua mãe, que acabou aceitando a opção do filho. Seguiu então para São Paulo, a fim de obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico.
Matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1897, aos 18 anos. Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira: Miguel Couto, que lhe apresentou as noções e as práticas da clínica moderna, e com quem passaria a ter uma estreita amizade; e Francisco Fajardo, que o colocou no estudo das doenças tropicais, especialmente da malária. Para elaborar sua tese, pré-requisito para o exercício da medicina à época, dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor Miguel Couto a Oswaldo Cruz, diretor do Instituto. Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas começou a trabalhar no Instituto, escolhendo como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sanguínea. Doutorou-se, em 1903, com a tese intitulada “Estudo Hematológico do Impaludismo”.
Em 1904, foi nomeado médico da Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 1906, transferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz.
Em 1905, foi contratado por Oswaldo Cruz com a missão de controlar a epidemia da doença que assolava o município de Itatinga-SP. Sendo a primeira ação bem-sucedida contra a malária no Brasil. O resultado deste trabalho serviu de base para o combate efetivo da doença no mundo inteiro.
Dois anos depois, foi para o norte de Minas Gerais para combater a malária entre os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Brasil. Carlos Chagas permaneceu dois anos nesta região, onde suas pesquisas o levaram a descobrir uma doença provocada por um protozoário até então desconhecido, que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao seu mestre Oswaldo Cruz.
O protozoário foi encontrado no inseto conhecido como barbeiro, visto sua preferência por sugar o sangue do rosto. Carlos Chagas examinou esses insetos e descobriu que eles eram os hospedeiros da doença batizada de doença de Chagas. Pela primeira vez na história da medicina, um pesquisador conseguiu descrever por completo o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (o besouro conhecido como barbeiro), o agente causal (o protozoário Trypanosoma cruzi), o reservatório doméstico (gato), a doença nos humanos e suas complicações, e essa descoberta tornou Chagas mundialmente famoso.
Essa descoberta foi levada ao conhecimento da comunidade científica através de uma nota prévia escrita por Chagas e publicada no periódico “Brasil Médico”, em 22 de abril de 1909. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou formalmente à Academia Nacional de Medicina que decidiu levar a Lassance uma comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, Presidente da comissão, sugeriu que a nova doença se chamasse Doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas preferia chamar a doença como tripanossomíase americana.
Em agosto de 1909, Chagas publicou no primeiro volume da revista do Instituto de Manguinhos – “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, um estudo completo sobre a Doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário causador da doença. Esse trabalho garantiu a ascensão do cientista na instituição, sendo promovido a Chefe de Serviço, em março de 1910.
Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como Membro Titular Extranumerário, já que não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade, Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença.
É o Patrono da Cadeira 86.
Sua obra não se restringiu à Doença de Chagas, sendo o primeiro a descrever as lesões da medula óssea na malária. Descobriu novos e importantes transmissores e revolucionou sua época ao afirmar que a malária era uma infecção domiciliar.
Entre 1912 e 1913, participou de expedição científica sobre as condições médico-sanitárias nos centros produtores de borracha na região da bacia amazônica, ao lado dos médicos Pacheco Leão e João Pedro de Albuquerque, solicitada pela Superintendência da Defesa da Borracha, fazendo um completo levantamento médico-sanitário e das condições de vida dos habitantes da região.
Com a morte de Oswaldo Cruz, em 1917, Carlos Chagas foi nomeado Diretor do Instituto. A gripe espanhola chegou ao Rio de Janeiro em 1918, um ano após a morte de Oswaldo Cruz, e de Carlos Chagas ter assumido a direção do Instituto Manguinhos. Em dois meses, a gripe matou 15 mil pessoas na cidade. Carlos Chagas foi chamado para chefiar a campanha contra a epidemia. Em uma semana, ele instalou hospitais improvisados e laboratórios de emergência e, mobilizou a parte ativa da população. No final do ano, a epidemia havia sido debelada.
Em seguida, o presidente Epitácio Pessoa o encarregou de elaborar um novo código para a Saúde Pública, cujo novo regulamento foi aprovado em 1919 e passou a vigorar em 1920, criando-se assim o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), responsável pelos serviços sanitários terrestres, marítimos e fluviais e pelos serviços de profilaxia rural. Designado Chefe do DNSP, criou diversos serviços especializados em saúde, como higiene infantil, combate às endemias rurais, tuberculose, hanseníase e doenças venéreas. Ainda foi criador de escolas de enfermagem e estabeleceu a formação de médicos sanitaristas.
Sua descoberta sobre a doença de Chagas foi questionada pelo microbiologista austríaco Rudolf Kraus, diretor do Instituto Bacteriológico de Buenos Aires (1913-1921) e por alguns pesquisadores brasileiros, polêmica que teve grande repercussão nos anos de 1922 e 1923, e seria superada somente após sua morte. Foi duas vezes indicado ao prêmio Nobel de Medicina, em 1913 e 1921, não tendo sido agraciado.
Em 1925, foi nomeado Professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde criou a Cadeira de Moléstias Tropicais e estabeleceu as bases de estudo de higiene em nosso país.
Representou o Brasil em diversos comitês internacionais, principalmente como membro permanente do Comitê de Higiene da Liga das Nações.
Carlos Chagas recebeu na Alemanha dois importantes prêmios, concedidos a cientistas de destaque: Prêmio Schaudinn em 1912 e Prêmio Krummel em 1925. Recebeu também o título de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Harvard, Paris e Bruxelas. Em 1920, recebeu o título de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália.
Faleceu subitamente, aos 55 anos, vítima de infarto do miocárdio, em 8 de novembro de 1934, em sua casa, na rua Paissandu, na cidade do Rio de Janeiro, onde está enterrado, no cemitério São João Batista.
Seus dois filhos, Evandro Chagas (1905-1940) e Carlos Chagas Filho (1910-2000) teriam destacadas carreiras científicas.
Acad. Francisco Sampaio
Número acadêmico: 261
Cadeira: 86 Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas
Cadeira homenageado: 86
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 26/10/1910
Posse: 26/10/1910
Sob a presidência: Miguel da Silva Pereira
Saudado: Miguel da Silva Pereira
Falecimento: 08/11/1934
Número acadêmico: 261
Cadeira: 86 Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas
Cadeira homenageado: 86
Membro: Titular
Secção: Ciencias aplicadas à Medicina
Eleição: 26/10/1910
Posse: 26/10/1910
Sob a presidência: Miguel da Silva Pereira
Saudado: Miguel da Silva Pereira
Falecimento: 08/11/1934
Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas nasceu no município de Oliveira, no Estado de Minas Gerais, em 9 de julho de 1879, de família tradicional de proprietários de terras, dedicados à pecuária e ao cultivo de cana-de-açúcar e café, era filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas.
Ingressou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo formado em engenharia. Em 1896, adoentado e reprovado nos exames, voltou para Oliveira e, enquanto se recuperava, seu tio Carlos fortaleceu sua vontade de ser médico e o ajudou a vencer a barreira de sua mãe, que acabou aceitando a opção do filho. Seguiu então para São Paulo, a fim de obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico.
Matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1897, aos 18 anos. Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira: Miguel Couto, que lhe apresentou as noções e as práticas da clínica moderna, e com quem passaria a ter uma estreita amizade; e Francisco Fajardo, que o colocou no estudo das doenças tropicais, especialmente da malária. Para elaborar sua tese, pré-requisito para o exercício da medicina à época, dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor Miguel Couto a Oswaldo Cruz, diretor do Instituto. Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas começou a trabalhar no Instituto, escolhendo como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sanguínea. Doutorou-se, em 1903, com a tese intitulada “Estudo Hematológico do Impaludismo”.
Em 1904, foi nomeado médico da Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 1906, transferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz.
Em 1905, foi contratado por Oswaldo Cruz com a missão de controlar a epidemia da doença que assolava o município de Itatinga-SP. Sendo a primeira ação bem-sucedida contra a malária no Brasil. O resultado deste trabalho serviu de base para o combate efetivo da doença no mundo inteiro.
Dois anos depois, foi para o norte de Minas Gerais para combater a malária entre os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Brasil. Carlos Chagas permaneceu dois anos nesta região, onde suas pesquisas o levaram a descobrir uma doença provocada por um protozoário até então desconhecido, que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao seu mestre Oswaldo Cruz.
O protozoário foi encontrado no inseto conhecido como barbeiro, visto sua preferência por sugar o sangue do rosto. Carlos Chagas examinou esses insetos e descobriu que eles eram os hospedeiros da doença batizada de doença de Chagas. Pela primeira vez na história da medicina, um pesquisador conseguiu descrever por completo o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (o besouro conhecido como barbeiro), o agente causal (o protozoário Trypanosoma cruzi), o reservatório doméstico (gato), a doença nos humanos e suas complicações, e essa descoberta tornou Chagas mundialmente famoso.
Essa descoberta foi levada ao conhecimento da comunidade científica através de uma nota prévia escrita por Chagas e publicada no periódico “Brasil Médico”, em 22 de abril de 1909. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou formalmente à Academia Nacional de Medicina que decidiu levar a Lassance uma comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, Presidente da comissão, sugeriu que a nova doença se chamasse Doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas preferia chamar a doença como tripanossomíase americana.
Em agosto de 1909, Chagas publicou no primeiro volume da revista do Instituto de Manguinhos – “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, um estudo completo sobre a Doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário causador da doença. Esse trabalho garantiu a ascensão do cientista na instituição, sendo promovido a Chefe de Serviço, em março de 1910.
Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como Membro Titular Extranumerário, já que não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade, Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença.
É o Patrono da Cadeira 86.
Sua obra não se restringiu à Doença de Chagas, sendo o primeiro a descrever as lesões da medula óssea na malária. Descobriu novos e importantes transmissores e revolucionou sua época ao afirmar que a malária era uma infecção domiciliar.
Entre 1912 e 1913, participou de expedição científica sobre as condições médico-sanitárias nos centros produtores de borracha na região da bacia amazônica, ao lado dos médicos Pacheco Leão e João Pedro de Albuquerque, solicitada pela Superintendência da Defesa da Borracha, fazendo um completo levantamento médico-sanitário e das condições de vida dos habitantes da região.
Com a morte de Oswaldo Cruz, em 1917, Carlos Chagas foi nomeado Diretor do Instituto. A gripe espanhola chegou ao Rio de Janeiro em 1918, um ano após a morte de Oswaldo Cruz, e de Carlos Chagas ter assumido a direção do Instituto Manguinhos. Em dois meses, a gripe matou 15 mil pessoas na cidade. Carlos Chagas foi chamado para chefiar a campanha contra a epidemia. Em uma semana, ele instalou hospitais improvisados e laboratórios de emergência e, mobilizou a parte ativa da população. No final do ano, a epidemia havia sido debelada.
Em seguida, o presidente Epitácio Pessoa o encarregou de elaborar um novo código para a Saúde Pública, cujo novo regulamento foi aprovado em 1919 e passou a vigorar em 1920, criando-se assim o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), responsável pelos serviços sanitários terrestres, marítimos e fluviais e pelos serviços de profilaxia rural. Designado Chefe do DNSP, criou diversos serviços especializados em saúde, como higiene infantil, combate às endemias rurais, tuberculose, hanseníase e doenças venéreas. Ainda foi criador de escolas de enfermagem e estabeleceu a formação de médicos sanitaristas.
Sua descoberta sobre a doença de Chagas foi questionada pelo microbiologista austríaco Rudolf Kraus, diretor do Instituto Bacteriológico de Buenos Aires (1913-1921) e por alguns pesquisadores brasileiros, polêmica que teve grande repercussão nos anos de 1922 e 1923, e seria superada somente após sua morte. Foi duas vezes indicado ao prêmio Nobel de Medicina, em 1913 e 1921, não tendo sido agraciado.
Em 1925, foi nomeado Professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde criou a Cadeira de Moléstias Tropicais e estabeleceu as bases de estudo de higiene em nosso país.
Representou o Brasil em diversos comitês internacionais, principalmente como membro permanente do Comitê de Higiene da Liga das Nações.
Carlos Chagas recebeu na Alemanha dois importantes prêmios, concedidos a cientistas de destaque: Prêmio Schaudinn em 1912 e Prêmio Krummel em 1925. Recebeu também o título de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Harvard, Paris e Bruxelas. Em 1920, recebeu o título de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália.
Faleceu subitamente, aos 55 anos, vítima de infarto do miocárdio, em 8 de novembro de 1934, em sua casa, na rua Paissandu, na cidade do Rio de Janeiro, onde está enterrado, no cemitério São João Batista.
Seus dois filhos, Evandro Chagas (1905-1940) e Carlos Chagas Filho (1910-2000) teriam destacadas carreiras científicas.
Acad. Francisco Sampaio