Como de honroso costume, a Academia Nacional de Medicina segue com sua tradição ininterrupta de anfitriar sessões e simpósios semanais com objetivo de elucidar e debater diversos assuntos no âmbito da medicina. Após a breve abertura do presidente, e agradecimentos aos presentes, passando sua fala para os palestrantes.
O Dr. Álvaro Alberto Gomes Estima aborda o tema de “Bases Biológicas Dos Transtornos Mentais”, que tem como objetivo investigar a causa das doenças, ato não comprido com eximia facilidade. O cérebro autorregula-se constantemente, mudando de acordo com suas interações com o ambiente. Segundo afirma o palestrante “A Tríade do Início das Doenças Mentais” são compostas pelas fragilidades genéticas ligadas ao ambiente; quaisquer formas de sofrimento infantil, tornando os pacientes mais sucedidos a serem portadores da doença pelo resto de suas vidas e o Stress agudo/crônico que pode atingir qualquer faixa etária. O Dr. Álvaro Estima fala que um dos principais métodos de diagnóstico é feito pelo histórico da família do paciente, tendo em vista que alterações ocorridas em um indivíduo podem ser passadas para sua prole.
Em seguida, ocorre a apresentação da Dra. Professora Marcele Regine de Carvalho que é professora Adjunta do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e no Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental (PROPSAM) do Instituto de Psiquiatria (IPUB)/UFRJ.
Seu tema é a “Prática da Psicologia Baseada em Evidências”, que são os resultados de todo os esforços de investigação qualitativa, quantitativa ou de ambos, fornecendo ao psicólogo uma base documentada na qual possa basear sua pratica num determinado momento. Tem três pontos básicos, a Expertise Clínica, as Características do Cliente e a Melhor Evidência possível, em relação a efetividade, eficiência, eficácia e segurança. A Doutora dá atenção especial para o Mindfullness, ou Regulação Emocional, que se refere a estratégias que podem influenciar quais emoções surgem, quando, quanto tempo duram e como são experienciadas e expressas.
O tema “Imagem Funcional em Psiquiatria” é apresentado pela Dra. Maria da Graça Morais Martin, que possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2007).
Sua apresentação engloba as limitações da ressonância magnética e as melhorias técnicas como a inteligência artificial, que auxiliam o estudo do funcionamento cerebral. A Doutora faz uma comparação de diversos estudos que fazem uso de BOLD e fMRI com fim de estabelecer uma base fisiológica neural, e de que modo deve ser aplicado na psiquiatria, na tentativa de entendimento cerebral nos transtornos mentais, e a correlação do funcionamento de diferentes áreas do cérebro em diversos transtornos, e a imperante diferença entre eles; testes que ainda têm como limitações falsos positivos e baixa reprodutividade.
Entretanto, a Doutora avista um horizonte de evoluções do BOLD e fMRI, auxiliados de elementos como a Inteligência Artificial, Big Data, Medicina de Precisão com objetivo de aperfeiçoar o tratamento dos transtornos mentais.
Dando prosseguimento ao simpósio, a próxima palestra é apresentada pelo Dr. Helvécio Savedra Serpa que possui mestrado em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis (2003). Atualmente é professor adjunto da Faculdade Artur de Sá Earp e tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Processos Perceptuais e Cognitivos. O título de sua apresentação se dá por “Programa de Terapia de Exposição com Realidade Virtual / Realidade Aumentada nos Transtornos Mentais”, que se norteia por reestruturar o comportamento de pacientes de casos de fobia, ansiedade, medos injustificados ou construção de crenças e pensamentos disfuncionais por meio de um programa de 4 etapas. O Protocolo do programa de TERV funciona em 3 etapas, a primeira que identifica a queixa principal e métodos de combate, assim como gatilhos. Em seguinte, proporciona compreensão da ansiedade, medo e construção de crenças ou esquemas conceituais criados pelo paciente, e por fim a aplicação de técnicas de meditação baseada em Mindfulness. Na Realidade virtual, os pacientes são colocados em um ambiente gerado por computação gráfica, com características contextuais referentes aos seus medos e/ou suas ansiedades. Quanto maior a vivência frente as dificuldades, maior será o controle que o mesmo obterá da situação e assim vivenciará a melhora do sentimento.
A palestra seguinte é apresentada pelo Dr. Izio Klein, formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (2011). O tema abordado é “Neuromodulação (EMTr) noTratamento dos Transtornos Mentais”, e inicia por dar a definição de neuromodulação como a conjuntura de técnicas não farmacológicas que têm o mesmo objetivo de tratar transtornos psiquiátricos, atuando por meio de modulação do Sistema Nervoso Central, através do uso da Eletro convulso-terapia para pacientes com casos de surto psicóticos, além de outras técnicas invasivas-que ainda retém de muitos efeitos colaterais- e evasivas. O EMTr é usado em casos de episódios depressivos, esquizofrenia-com muitos sintomas negativos-, TOC e Estresse Pós-Traumático, além da dependência química. O Dr. Klein elucida a necessidade de mais estudos e adequação de protocolo para melhora de resultados na área, que se encontra em sua fase experimental.
O “Luto e a Psiquiatria” são apresentados pela Dra. Vivianne Nouh Chaia Oliveira, formada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Petrópolis (1989) e Pós-Graduada em Psiquiatria pela PUC –Rio, e atua como médica psiquiatra na INBRACER. O Luto Integrado é sua abertura, aonde se caracteriza 7 passos: a aceitação clara da perda; a capacidade de falar sobre o ente querido; lembrar do falecido sem dor e sem culpa; saudade (substituí a dor); legado do falecido, o que ele deixou de positivo; os sentimentos são relacionados ao momento atual; a vida retorna com novos significados.
Já o Luto Complicado, acontece com pessoas que perderam entes de maneira abrupta, como em acidentes, tragédias e casos de suicídio e na morte precoce de um filho ou cônjuge. Nesses casos, todo pensamento e ato estarão associados à perda, a pessoa não consegue se desligar. Ela deixa de realizar as atividades costumeiras, se prejudicando. É diagnosticado após um ano em adultos e em seis meses em crianças. As opções de tratamento: incluem várias formas de psicoterapia e farmacoterapia.
No Luto Complicado Persistente, desde o falecimento, apresentam-se ao menos 06 (seis) dos sintomas: marcada dificuldade em aceitar a morte; experimentar incredulidade ou entorpecimento emocional quanto a perda; dificuldade com memórias positivas a respeito do falecido; amargura ou raiva relacionada à perda; evitação excessiva das lembranças da perda; desejo de morrer a fim de estar com o falecido; dificuldade de confiar em outras pessoas; sentir-se sozinho ou isolado de outras pessoas; sentir que a vida não tem sentido, não consegue funcionar sem o falecido; confusão quanto ao próprio papel na vida, perda da sua identidade; relutância em planejar o futuro.
A prática clínica para esses casos deve-se avaliar o diagnóstico diferencial, risco de suicídio, aconselhamento em luto, pscicoeducação, psicoterapias e tratamento medicamentoso.
Em sequência, acontece a apresentação do Dr. Alexander Moreira de Almeida é um psiquiatra e parapsicólogo brasileiro, professor associado da UFJF, notório por suas publicações sobre fenômenos paranormais, saúde, transtornos mentais, problema mente-corpo, religião e espiritualidade. Sua palestra aborda a temática “Espiritualidade e Saúde Mental” onde o médico faz a associação entre Espiritualidade, Religião e a Saúde Mental, em foco no impacto sobre a saúde mental e como o estilo de vida, suporte social, crenças, coping e práticas religiosas afetam o paciente.
É afirmado que os principais achados são: queda no percentual de suicídio, depressão e abuso de substâncias, além de uma maior qualidade de vida e expectativa da mesma, sendo observado uma correlação inversa com uso de substâncias e a religiosidade. Alguns pontos negativos apontados são o coping religioso, que podem vir a ser ineficientes para tratar da saúde mental do paciente e conflito ou resistência aos tratamentos.
A Dra. Mônica Lumack Moura discursa sobre “Plataforma Tecnológica e Inteligência Artificial na Clínica Psiquiátrica”, focando no Instrumento Terapêutico de software online que interage com o paciente, como forma de extensão de tratamento presencial e farmacológico. Prescrito para pacientes com depressão maior, transtorno de humor; ansiedade generalizada. Algumas barreiras enfrentadas por esse método são o receio de perder o PAC para Inteligência Artificial, como o software não é fonte de alivio para o médico e a preocupação da prescrição adequada, para evitar recaídas, obter remissão de sintomas, e buscar recuperação, abrindo um leque de abordagens com uma linguagem simples, vencendo a negação, resistência e o estigma.
Dando continuidade ao simpósio, acontece a palestra do Dr. Steven Rehen no qual formou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994), Pós-Graduações no Instituto de Biofísica da UFRJ (2000) e Pós-doutoramentos na Universidade da Califórnia em San Diego e Instituto de Pesquisa Scripps dos Estados Unidos (2000-2005). Em sua fala, associa os excessos e má formações de genes á transtornos mentais e o uso da sua pesquisa sobre a criação de células nervosas para simular reações nos pacientes a medicamentos, além do uso dessas células de IPS para cosméticos e o Zika Vírus. O Dr. Rehen alega que pacientes com esquizofrenia que passaram por seu mapeamento têm 228 genes associados ao stress oxidativo, é uma condição biológica em que ocorre desequilíbrio entre a produção de espécies reactivas de oxigénio e a sua remoção através de sistemas que as removam ou reparem os danos por elas causados, que apoia sua teoria. Após receber a outorga do título de Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina, o Dr. Jorge Jaber realiza a palestra sobre as “Bases Neurológicas das Dependências”. Seu estudo foi feito com ex usuários de drogas, foi feito um estímulo visual para conectar o funcionamento metabólico com a urgência do uso da droga. Em seu estudo, revelou-se que para aqueles pacientes que foram arduamente estimulados, maior é o funcionamento metabólico do cérebro mostrado pela ressonância magnética; chegando a conclusão que o vício e a dificuldade de resistir a recaídas são fruto de um sistema neurológico que induz o uso da droga, caracterizando dependentes químicos dentro dos transtornos mentais.
Seguindo a programação, a palavra é dada ao Honorário Acadêmico Dr. Flávio Quicilli que possui graduação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 1971. Realizou residência médica em Cirurgia Geral de 1972 a 1973, possui mestrado em Medicina pela UNICAMP em 1986 e doutorado em Clínica Cirúrgica pela UNICAMP em 1988. A partir da temática “Cérebro e a Microbiota Cerebral”, o Honorário cria um link entre o cérebro e o intestino, que, apensar de distantes e diferentes, influenciam similarmente o paciente. O intestino é responsável por funções metabólicas tropicas, a imunidade e barreiras biológicas, e quando saudável, influência nas emoções, na cognição e na nocicpção. Pode também influenciar no desenvolvimento neural e no comportamento complexo. Alguns fatores de alteram a ligação entre o cérebro e o intestino são: fatores centrais como o stress, ansiedade e depressão; fatores periféricos como a gastroenterite, uso de medicamentos e estilo de vida, hábitos; e fatores do hospedeiro, como genética e dibiose.
A Dra. Analice Gigliotti possui mestrado Universidade Federal de São Paulo (2002), atua principalmente nos seguintes temas: tratamento, dependência química, transtornos do controle do impulso e tabagismo, que foi inclusive o enfoque de sua palestra. Com a temática “Dispositivos Eletrônicos Indutores de Dependências – os vapers e o poder de perverter o bom curso do controle do tabaco no mundo”, utilizou-se da comparação entre o tabagismo tradicional e o uso de cigarros eletrônicos e seu grande avanço no mercado desde 2012. O uso do mesmo aumentou significante entre adolescentes, que fazem uso do Jull com sabores, óleo de THC e outros, estando ligados diretamente a doenças de pulmão graves.
Com a temática “Avaliação e Neuroreabilitação dos Transtoornos Cognitivos da Idade” a Dra. Helenise Charcat Fichman que possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998), mestrado em Neurociências e Comportamento pela Universidade de São Paulo (1999) e doutorado em Neurociências e Comportamento pela Universidade de São Paulo (2003), é especialista nesse tema. A avaliação neuropsicológica mapear o funcionamento cognitivo e relaciona-se com a organização funcional do cérebro, auxiliando na identificação de transtornos cognitivos no processo de envelhecimento, sendo uma alternativa para os modelos médicos, com objetivos individuais direcionados às necessidades atuais do paciente, familiares, tipo e gravidade de doenças associadas, definição de novos projetos de vida. Os objetivos da reabilitação cognitiva no envelhecimento para o paciente são: Reduzir déficit cognitivo; maximizar qualidade de vida; minimizar risco de evolução dos comprometimentos cognitivos; prevenir o desenvolvimento de isolamento social e distúrbios psicológicos, melhorando a qualidade de vida do paciente e de seus respectivos cuidadores.
“Prevenção da Demência e da Doença de Alzheimer é palestrada” pelo Dr. Jerson Laks que possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978), mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1983) e doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). O doutor lembra a importância da conscientização da prevenção da demência e da doença de Alzheimer, tendo em vista o crescente número de pessoas com a doença; seu tratamento individualizado e planos futuros para com a tecnologia. Ilumina a estratégia de tratamento e prevenção feita pela Academia Nacional de Medicina em parceria com o governo como grande reforço para os alertas à população. O processo demencial pode ser retardado ou prevenido, apesar de ainda não poder ser revertido. Dr. Laks afirma que baixas doses de lítio retardam a demência e que os fatores de risco da doença são os mesmos para as doenças cardíacas e vasculares, além de lembrar uma notória melhora na qualidade de vida do paciente ao adotar um estilo de vida mais saudável.
O Presidente encerra o simpósio semanal após alguns notórios comentários de presentes, ao proferir um breve discurso remetendo a um assunto sobre a Medicina de Precisão, e sua incerteza a ser aplicada ao cérebro, porém não a mente, sendo uma dimensão fantástica da vida humana; citando Hipócrates: “A medicina é ciência na sua elaboração, mas é arte na sua execução”, tratando a beleza da psiquiatria como a incerteza.