A Sessão de 11 de julho marcou a data em que a instituição concedeu o título de Honorário Nacional ao Professor Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos. No Artigo 36 de seu Regimento Interno, a Academia Nacional de Medicina estabelece que serão agraciados com o supracitado título médicos “credenciados por notório saber e irreprochável caráter, cujas contribuições e realizações tenham concorrido para o engrandecimento da Medicina”.
O tradicional procedimento para a outorga do título inclui a indicação por parte de uma comissão formada por Acadêmicos Titulares ou Eméritos, através de ofício endereçado ao Presidente da Academia Nacional de Medicina, contendo currículo completo do candidato, a ser apreciado pela Diretoria da instituição. A partir de então, a proposta é levada ao plenário, onde o candidato deverá obter pelo menos 80% de aprovação por parte de seus pares. A distinção consiste na entrega de um Diploma e a aposição do colar Acadêmico, em sessão da Academia Nacional de Medicina, apresentando uma conferência e Recebendo Diploma e Medalha.
Recebido no Anfiteatro Miguel Couto pelo 1º Vice-Presidente, Acadêmico Antonio Egidio Nardi, e pelo Acadêmico Marcello Barcinski, responsável por proferir o discurso saudação ao novo honorário da Casa. Em sua alocução, o Acadêmico Barcinski destacou a brilhante trajetória do Prof. Travassos, filho do renomado bacteriologista e virologista Joaquim Travassos da Rosa.
Após esta etapa solene, o Dr. Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos proferiu a conferência “Atividade Anti-metastática de Moléculas Bioativas”, na qual versou sobre importantes episódios na história da evolução da microbiologia moderna. Relembrou que sua tese de doutorado inaugurou a nova fase da pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressaltando as importantes mudanças que presenciou no estudo das células tumorais ao longo dos anos. Foram apresentadas as contribuições de grandes nomes da microbiologia nacional, como o Dr. Isaac Roitman, orientado pelo Dr. Travassos.
Suas contribuições foram de extrema importância para o desenvolvimento de técnicas que buscavam não apenas a criação de métodos diagnósticos mais eficazes, mas também a identificação de oportunidades de tratamento para neoplasias, principalmente aqueles associados ao uso de imunoterapia.
Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1962) e doutorado em Ciências (Microbiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967). Ingressou em um laboratório de pesquisa já no primeiro ano do curso médico, sob a orientação de Carlos Solé-Vernin. Neste laboratório isolou e caracterizou pela primeira vez no Brasil, bactérias patogênicas, de metabolismo oxidativo, produtoras de ácido glucônico, hoje classificadas como Acinetobacter e, na época, como membros da Tribu Mimeae (mimetizando Neisseria). No laboratório do acadêmico Amadeu Cury, continuou os estudos fisiológicos destas bactérias, mas a principal técnica incorporada foi a de estudos nutricionais utilizando leveduras saprófitas obrigatórias de animais de sangue quente. Esse estudo, que permitiu um considerável avanço na determinação de fatores de crescimento de microorganismos, fatores de temperatura, estabelecimento de dois métodos de dosagem microbiológica (colina e carnitina), estabelecimento de meios sintéticos, estudo do mecanismo de ação de antimetabólitos, teve o seu mérito reconhecido pelo convite para apresentar uma revisão ao Annual Review of Microbiology, publicada em 1971. Nessa época e em grande parte de sua carreira recebeu a influência de Seymour H. Hutner do Haskins Laboratories em Nova Iorque. A partir de 1972, iniciou uma linha de investigação sobre bioquímica e imunoquímica de estruturas antigênicas de fungos patogênicos para o homem.
Foi Professor Visitante do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, onde ficou ligado ao grupo chefiado por Lloyd J. Old, que estudava antígenos tumor-específicos de células de melanoma humano. A sua principal contribuição no período foi a identificação de gangliosídeos imunogênicos característicos de melanoma, o que abriu uma nova linha de investigação na área, tanto no Sloan-Kettering como em outros laboratórios. De volta ao Brasil, transferiu-se para a Escola Paulista de Medicina, onde iniciou duas linhas de pesquisa, uma relacionada aos componentes antigênicos de Trypanosoma cruzi reativos com anticorpos líticos, e outra ao antígeno de diagnóstico específico do Paracoccidioides brasiliensis. Nessas duas linhas, resultados importantes foram obtidos. Por exemplo, na primeira linha, os alvos dos anticorpos líticos foram identificados como sendo epítopos de alfa-galactosil 1,3-galactosil expressos em glicoproteínas tipo mucina, ancoradas à membrana via âncoras de glicosilfosfatidilinositol, cuja estrutura foi parcialmente determinada. Esses compostos purificados estão sendo utilizados com grande sucesso no diagnóstico da Doença de Chagas ativa.
Trabalhou ainda na formulação de uma vacina contra a paracoccidioidomicose baseada no peptideo P10 derivado da gp43. Da mesma forma mantem uma sólida linha de pesquisa em oncologia experimental a partir da criação da Unidade de Oncologia Experimental focalizando principalmente o modelo de melanoma murino B16F10. Participou ainda de trabalhos colaborativos envolvendo bactérias enteropatogênicas, fungos patogênicos (Cryptococcus neoformans), bem como glicobiologia de tripanosomatídeos e células tumorais, tendo publicado até 2008 mais de 185 trabalhos e 21 capítulos de livros.