No dia 30 de junho de 1829 era fundada a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, instituição que tinha, por princípio, contribuir para o estudo, a discussão e o desenvolvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta do Governo brasileiro sobre questões de saúde e de educação médica. Quase duas décadas depois e após algumas mudanças de nome, a Academia Nacional de Medicina comemorou, na noite do dia 2 de julho, os 190 anos de sua Fundação, em Sessão solene que celebrou a pomposa tradição da Casa, que segue reunindo os mais proeminentes nomes da medicina nacional, apontando também para um futuro de constante renovação.
A primeira etapa da celebração teve como ponto alto a inauguração do Centro da Memória Médica, complexo que reúne os acervos da Arquivo, Biblioteca e Museu da Academia Nacional de Medicina. A inauguração do complexo representa a concretização de um sonho compartilhado por inúmeras gestões da ANM, cujo trabalho foi lembrado em placa comemorativa que ficará exposta permanentemente no Centro da Memória Médica. Além deste fato, vale ressaltar o apoio da FINEP, cujo financiamento, obtido em 25 de maio de 2017, possibilitou grande parte das obras estruturais do espaço. Durante a cerimônia falaram, além do Presidente Jorge Alberto Costa e Silva, o ex-Presidente Pietro Novellino e os Diretores do Arquivo (Acad. José Luiz Gomes do Amaral), Biblioteca (Acad. Carlos Gottschall) e Museu (Acad. Manassés Claudino Fonteles).
Fundado em 2005, o Arquivo Sergio D’Avila Aguinága preserva documentos textuais, iconográficos e audiovisuais que registram as atividades da instituição e de seus membros. A Biblioteca Alfredo do Nascimento possui 13 mil livros catalogados, relativos à Medicina e/ou à história da Medicina, dos quais 2.300 livros são consideradas Obras Raras e Especiais. Reúne também as coleções dos Anais da Academia Nacional de Medicina, em acervo de grande valor histórico para o resgate da memória da Medicina e da Saúde do Brasil. Já o Museu Inaldo de Lyra Neves-Manta foi fundado em 14 de abril de 1898 e é um dos poucos museus brasileiros dedicados a divulgar a memória da medicina. O acervo museológico é composto de peças de relevância científica como instrumentos médicos, artes plásticas, filatelia, óculos, medalhas, peças que fazem parte da história evolutiva da medicina brasileira.
Na segunda etapa da comemoração, os convidados foram conduzidos ao histórico Anfiteatro Miguel Couto, onde foi iniciada a tradicional cerimônia comemorativa do aniversário da Academia Nacional de Medicina. Após a alocução de abertura da Sessão por parte do Presidente Jorge Alberto Costa e Silva, coube ao Secretário-Geral, Acad. José Galvão-Alves anunciar a composição da mesa diretora, a saber: Dr. Francisco Horta (Provedor da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro), Embaixador Jayme Leitão (Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro), Dr. Edmar Santos (Secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro), Dr. Roberto Medronho (Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Dr. José Itamar Costa (Presidente da Academia de Medicina do Piauí), Contra-almirante Manoel de Almeida Moreira Filho (Academia Brasileira de Medicina Militar), Dr. Victorino Coutinho Chermont de Miranda (Presidente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro), Nelson Nahon (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), Dr. Savino Gasparini (Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões) e o Dr. Luiz José Martins (Presidente Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro).
Conforme disposto no Regimento Interno da Academia Nacional de Medicina, cabe ao Secretário-Geral fazer a leitura do relatório de atividades do ano Acadêmico corrente. A esse respeito, o Acad. José Galvão-Alves chamou atenção para o fato que foram realizados 21 Simpósios, 8 conferências, 6 Recentes Progressos e 2 Sessões Anatomopatológicas denominadas “Uma tarde na Academia – oficina diagnóstica”.
Destacou a dedicação extrema por parte da Diretoria, ressaltando o caráter democrático das ações realizadas, que contaram com “um clima de respeito, harmonia e cordialidade, dando continuidade aos excelentes trabalhos dos ex-Presidentes desta Casa”. Ressaltou ainda, o compromisso firmado pela Academia Nacional de Medicina de lutar e apoiar a revitalização do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, berço sagrado do ensino médico brasileiro.
Na sequência, foi a vez do Orador oficial da Diretoria do biênio 2017-2019, Acad. Omar da Rosa Santos, fazer sua alocução. Fazendo uma revisão dos trabalhos da gestão, destacou ações como a revisão do estatuto da Academia Nacional de Medicina e sua adequação ao Código Civil Brasileiro. Discorreu sobre os trabalhos desenvolvidos pelo Programa Jovens Lideranças Médicas, coordenado pelo Acadêmico Marcello Barcinski e que conta com o apoio da Bayer do Brasil.
Chamou atenção também para a atuação dos Núcleos de Relações Institucionais da Academia Nacional de Medicina, que concretizaram diversas parcerias, culminando na assinatura de termos de cooperação nacionais e internacionais. Foram enumeradas as atividades realizadas em países como Estados Unidos, França, Reino Unido, Argentina, Chile e China, dentre outros. Também foi mencionada a iniciativa encabeçada pelo Acadêmico Silvano Raia que, em parceria com a Universidade de São Paulo, desenvolve projeto para a realização de xenotransplante no país. Ao final de seu discurso, homenageou os Acadêmicos falecidos e leu mensagens de boas-vindas aos Acadêmicos que tomaram posse no corrente ano.
Na etapa seguinte, foi realizada a entrega dos diplomas aos vencedores dos Prêmios da Academia Nacional de Medicina. O vencedor do Prêmio Presidente da Academia Nacional de Medicina – José Martins da Cruz Jobim (Secção de Cirurgia) foi o Prof. Antonio Rodrigues Braga Neto (Programa Jovens Lideranças Médicas), tendo como co-autora a Dra. Lílian Padrón da Silveira. O trabalho premiado tem como título “Impacto da técnica cirúrgica para esvaziamento uterino no desfecho clínico e oncológico de pacientes com gravidez molar”. Já para o Prêmio Presidente da Academia Nacional de Medicina – Antônio Austregésilo Rodrigues Lima (Secção de Medicina), foi premiado o Dr. Gustavo Barreto de Melo, com trabalho sobre o “Uso off-label de seringas em oftalmologia, técnica de manuseio e riscos associados”. Foi agraciado com o Prêmio Presidente da Academia Nacional de Medicina – Carlos Pinto Seidl (Secção de Ciências Aplicadas à Medicina) o Dr. Bruno Hochhegger, pelo trabalho “Ressonância magnética de nódulos pulmonares: acurácia em região endêmica de doença granulomatose”. Por fim, a Drª Júlia Dutra Rossetto recebeu o Prêmio Antônio Fernandes Figueira pelo seu trabalho“Acomodação e estrabismo em crianças com Síndrome Congênita pelo vírus da Zika”. Encerradas as outorgas, o Presidente Jorge Alberto Costa e Silva anunciou a abertura das inscrições para os Prêmios da Academia Nacional de Medicina para o ano de 2020, que estarão disponíveis no site oficial da ANM.
Em um marcante momento da cerimônia, o ex‐Presidente Pietro Novellino, representando os também ex-Presidentes Marcos Moraes e Francisco Sampaio, realizou a entrega do diploma de Presidente ao Acad. Jorge Alberto Costa e Silva, ressaltando sua liderança carismática e horizontal. Profundamente emocionado, o Presidente Jorge Alberto Costa e Silva fez seu discurso de encerramento, afirmando que “o homem é resultado de seu imaginário atuando sobre sua realidade”. Segundo o Acadêmico, presidir esta Casa é certamente uma das maiores honras que pôde desfrutar ao longo de sua vida. Destacou que os Membros da Academia Nacional de Medicina são a alma desta quase bicentenária instituição, ressaltando que, pela primeira vez desde sua posse, todas as 100 Cadeiras da ANM encontram-se ocupadas.
Sobre a inauguração do Centro da Memória Médica, afirmou que esta representa a concretização do compromisso da Academia Nacional de Medicina com o futuro, uma vez que a possibilidade de armazenar a memória da medicina brasileira é um privilégio para a instituição e para aqueles que por aqui passarem. Ressaltou que, nesta vida, nenhum de nós é capaz de construir nada sozinho, destacando os longos anos de trabalho árduo que culminaram na inauguração realizada neste dia. Afirmou que o Brasil é um país de cultura rica, mas que deve ser reconhecido não só como o país do futebol: “o Brasil é o país da cultura, da educação e da ciência”, finalizou o Presidente.
Ao final da solenidade, foi oferecido coquetel aos convidados no Salão Nobre, onde os Acadêmicos confraternizaram para festejar os 190 anos da Academia.