Na Sessão de quinta-feira, 3 de maio, a Profa. Dra. Mayana Zatz, do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo, compareceu à Academia Nacional de Medicina para realizar a conferência “Um olhar para a GenÉtica”. A pesquisadora é pioneira no campo de doenças neuromusculares (distrofias musculares, paraplegias espásticas, esclerose lateral amiotrófica) e atualmente realiza relevantes avanços na pesquisa com células-tronco.
A médica fez uma breve introdução a respeito do que é genética e as escolhas e mudanças que podem ser realizadas a partir do conhecimento dos “algoritmos” que o genoma humano proporciona. Segundo a conferencista, atualmente o acesso a esse tipo de informação se tornou mais fácil no aspecto técnico e funcional; além disso, testes genéticos são cada vez mais importantes no auxílio de diagnósticos e previsões de possíveis doenças. Entretanto, uma consequência desse avanço são os dilemas éticos advindos da utilização cada vez maior desta ferramenta, incluindo o aumento da discussão sobre responsabilidade médica e o direito de interferência.
Apontando as principais situações em que o estudo do genoma é utilizado como recurso – como o emprego de testes preditivos e exames de DNA -, a pesquisadora discorreu sobre doenças como a Síndrome de Prader-Willi, a Distrofia Miotônica, a Doença de Huntington, as Ataxias Espinocerebelares e Doença de Alzheimer. Segundo Mayana Zatz, estudo genético permite que um indivíduo saudável possa ter conhecimento prévio do risco de manifestar a doença ou transmiti-la a seus descendentes.
Demonstrou, ainda, casos onde características de personalidade podem ser reveladas através do teste genético, como responsabilidade, liderança, timidez, ansiedade e otimismo. Segundo pesquisa realizada no Brasil e Reino Unido, o “gene do otimismo” está presente em 40% da população brasileira, enquanto o percentual da população britânica é de 16%.
Em sua conclusão, a pesquisadora discutiu temas como privacidade, limites e experiências no campo da genética, e promoveu reflexões a respeito da “edição do genoma” e os aspectos éticos que envolvem o futuro e desenvolvimento da especialidade. De acordo com a geneticista, a linha entre o que é ético ou não no avanço das pesquisas é tênue e pode ser facilmente ultrapassada; por essa razão, o profissional deve sempre proceder com responsabilidade e cautela. Os Acadêmicos Marcello Barcinski e Silvano Raia enriqueceram o debate com apresentações relevantes sobre o tema, abrindo a rodada de discussões da qual participaram os Acadêmicos presentes.
Mayana Zatz possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1968), doutorado em Genética pela Universidade de São Paulo (1974) e pós-doutorado em Genética Humana e Médica pela Universidade da Califórnia (1977). É professora titular de Genética do Instituto de Biociências da USP e foi pró-reitora de Pesquisa da instituição (2005-2009). Coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e células-tronco (CEGH-CEL) e do Instituto Nacional de Células-Tronco em Doenças Genéticas. Atua, produz e tem interesse principalmente em questões éticas relacionadas ao Genoma Humano, testes genéticos e células-tronco. Entre agosto de 2010 e dezembro de 2012 fez parte do corpo de revisores (BORE) da revista Science. Participou ativamente da aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias pelos parlamentares (2005) e Supremo Tribunal Federal (2008).