Mesmo depois de dois anos do surgimento da Covid-19 no Brasil, as descobertas sobre essa doença ainda estão sendo feitas. Por isso, na última quinta-feira (25), a Academia Nacional de Medicina (ANM) apresentou o simpósio Covid longo: Conceito, Manejo e Evolução, sobre as sequelas que podem durar meses após o contágio e os pacientes necessitam de diferentes tratamentos. Esse evento foi coordenado pelo Acadêmico Ronaldo Damião, diretor do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), que possui um ambulatório focado em pós-Covid e afirma que é necessário muito investimento e investigação, para quase nenhum resultado, e o Acadêmico Carlos Alberto de Barros Franco.
Para abrir as apresentações, o tema Epidemiologia e Conceito foi ministrado pela professora Margareth Dalcolmo, da FIOCRUZ e recém-eleita à Membro Titular a ocupar a vaga da cadeira número 12 na ANM. Ela é considerada uma referência quando o assunto é pesquisa de Covid-19 no Brasil e iniciou a palestra com uma breve introdução sobre a doença e o que é o Covid longo, considerado pela Drª Margareth como um dos maiores problemas da medicina atual, no qual é necessário um tratamento transdisciplinar.
Drª Margareth apresentou duas pesquisas, uma delas feita pela FIOCRUZ de Minas Gerais com um pouco mais de 600 pacientes e concluiu que o Covid longo não possui um padrão, e mesmo os casos graves podem não gerar sequela, sendo algo totalmente aleatório. O outro estudo foi feito na China, com um número bem maior de pacientes, e mostrou que os problemas cardiovasculares são os mais apresentados nesses casos. A professora ressalta, antes de finalizar, que é necessário uma assistência médica, com fisioterapia, psicólogo, entre outras especialidades.
O tratamento multidisciplinar também é uma opção para a recuperação do Covid Longo, e o Dr. Fabrício Braga, da Casa de Saúde São José, explicou sobre o assunto na sua apresentação. Apaixonado por esportes, ele dirige um Centro de Reabilitação que usa as atividades físicas para a recapacitação das funções cardiovasculares, como apontam estudos sobre o pós-covid. Nesse caso, existem diferentes classificações para que seja possível realizar um tratamento, e um acompanhamento, multidisciplinar e individualizado ao paciente. Para ilustrar a sua apresentação, Dr. Fabrício mostrou os resultados do processo de recuperação do treinador da seleção de vôlei do Brasil, Renan Dal Zotto, que teve um quadro gravíssimo de Covid-19 e se recuperou, podendo estar em Tóquio com a equipe nas Olimpíadas em 2021.
O Acadêmico José Medina foi o responsável pela apresentação sobre Comprometimento da Função Renal. Nela, é ressaltado que a função renal sempre é comprometida em diferentes doenças, e com o Covid-19 não foi diferente. A variante ômicron foi a cepa que mais causou danos, com 28% de letalidade entre os pacientes transplantados. O Acadêmico ainda mostra esse número em proporções: a mortalidade foi 10 vezes maior do que nos pacientes sem comorbidades. Os números são alarmantes, mas o Acad. Medina confirma a recuperação dos pacientes.
O simpósio continuou com a apresentação do Acadêmico Antonio Egídio Nardi sobre um tema que ronda a sociedade desde o início da pandemia: os Aspectos Psiquiátricos. Esse assunto sempre é lembrado quando falamos de Covid-19, não sempre relacionados às sequelas ou sintomas que podem acompanhar a doença, mas dos casos de ansiedade e crise de pânico ligados ao medo de contaminação e do isolamento. Por isso, a área da psiquiatria foi uma das que mais trabalharam durante esse período. O Acadêmico apresentou uma pesquisa feita com estudantes no Rio de Janeiro sobre quadros significativos de pós-Covid e dos sintomas psiquiátricos na Covid longa. Além disso, o Acad. Antonio Nardi ressaltou que cada cepa teve diferentes efeitos, e a Delta foi a que obteve mais aspectos psiquiátricos.
A palestra seguinte também abordou um tema muito discutido, principalmente em casos graves de Covid-19, as Manifestações Neurológicas, apresentado pelo professor da INI-FIOCRUZ e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dr. Abelardo Araújo. Entre os principais sintomas evidenciados, ele cita a disfunção cognitiva, que está presente em 36% dos quadros e incluem distúrbios de memória, dificuldade na tomada de decisões, entre outros, e podem acontecer com pacientes de casos assintomáticos. Assim como o distúrbio do sono, acontecem em 36% dos casos e resultam em ansiedade e apneia, o tratamento pode ser igual ao da insônia. Dr. Abelardo cita a fadiga, parestesias e disestesias, dores musculares-esqueléticas e cefaleias, e afirma que já existem terapias experimentais para esse tratamento.
A apresentação seguinte abordou a Tecnologia no Atendimento no Covid Longo, apresentada pela professora Alexandra Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ela citou três modernidades que estão contribuindo com o atendimento ao paciente, são elas: telemedicina, inteligência artificial e a realidade virtual. Todos esses meios foram aplicados e testados no Hupe em diferentes áreas, desde os cuidados paliativos até o cruzamento de dados nos exames radiológicos. Esse processo ainda é novo, mas a professora afirmou que a tecnologia já é parte do nosso cotidiano.
Para finalizar, o Acadêmico Ronaldo Damião foi ao púlpito para falar sobre o Hupe e o Ambulatório Covid Longo – Centro de Referência OPS e OMS. O Acadêmico lembra que a iniciativa para a criação da enfermaria pós-Covid surgiu para que os pacientes do SUS tivessem a oportunidade de um tratamento multidisciplinar para tratar as sequelas da doença. Atualmente, um ano depois da abertura, a equipe criou um fluxo para atender as demandas dos pacientes e ainda realiza duas pesquisas com eles.
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