Anualmente, na segunda quinta-feira de março, é celebrado o Dia Mundial do Rim, que tem como objetivo aumentar a consciência sobre o impacto da doença renal na humanidade. Para consagrar essa data, a Academia Nacional de Medicina realizou, na sessão do dia 15 de março, Simpósio sobre Insuficiência Renal Aguda (I.R.A.), sob organização do Acadêmico Omar da Rosa Santos. Entre os palestrantes presentes estavam o Dr. Maurilo Leite Jr., da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro, e os Acadêmicos Natalino Salgado Filho, José Osmar Medina e Miguel Riella.
O Acadêmico Natalino Salgado Filho iniciou a primeira rodada de palestras com o tema “Etiologia da Insuficiência Renal Aguda (I.R.A.)”, classificando-a como uma redução abrupta da função renal, cujas principais consequências são: retenção de escórias nitrogenadas, alteração do volume de líquido extracelular, comprometimento da homeostase eletrolítica e do equilíbrio ácido-básico. Ressaltou que não há consenso quanto à definição da doença em pacientes críticos, e que na literatura existem mais de 30 definições diferentes, o que gera dificuldade na comparação de casos clínicos.
Em sua conclusão, o nefrologista apresentou as diferentes classificações para cada tipo de condição e estabeleceu comparações entre insuficiência, lesão e injúria renal aguda, que representam, respectivamente, disfunção, dano ou agressão aos rins. Apontou ainda possíveis causas da doença, entre elas, sepse, nefrotoxidade e insuficiência cardíaca.
Em seguida, o Presidente da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro, Maurilo Leite Jr., versou sobre I.R.A. Gestacional. Apresentou a fisiologia renal na gravidez e os fatores placentários que influenciam o surgimento da doença, como a diminuição da creatinina.
O especialista demonstrou que a maior incidência da condição se dá em países em desenvolvimento e que suas causas mais comuns são aborto séptico e pré-eclâmpsia. Concluiu que as ocorrências dependem principalmente da área geográfica e das condições de desenvolvimento, destacando a importância do acompanhamento e da avaliação pré-natal.
O Acadêmico e organizador do evento, o Dr. Omar da Rosa Santos deu início à rodada de debates, onde alguns de seus confrades foram convidados a discutir os temas tratados e apresentar suas opiniões a respeito do assunto. Os Acadêmicos Aníbal Gil Lopes, Manassés Claudino Fonteles e o Correspondente Nacional Valdebrando Lemos levantaram questões e reflexões sobre a patologia.
A segunda etapa do seminário foi iniciada com palestra do Acadêmico José Osmar Medina sobre Insuficiência Renal Aguda pós transplante renal, apresentando índices, pesquisas acadêmicas e biópsias renais de pacientes nos quais o transplante foi realizado e as diferentes causas de rejeição ao órgão transplantado. Em suas considerações finais concluiu, por meio de dados dos últimos 10 anos, que pacientes com rins transplantados – com e sem I.R.A. – podem ter função renal similar a longo prazo, se houver tratamento adequado.
Sobre a atuação do suporte nutricional na lesão renal aguda, o Acad. Miguel Calos Riella discorreu sobre a eficácia da nutrição enteral (ingestão controlada de nutrientes) como auxiliar no tratamento da doença. O método é utilizado desde a década de 60 e tem sido aperfeiçoado e otimizado desde então.
Segundo o nefrologista, a desnutrição é um dos principais problemas ocasionados pela I.R.A., e entre suas causas estão a perda de proteína e o aumento do catabolismo. O Acadêmico Riella afirmou que não há estudos clínicos suficientes para que se tenha uma conclusão efetiva a respeito da utilização da técnica. Entretanto, garantiu que o suporte nutricional não reduziu de maneira convincente a morbidade e mortalidade na patologia.
O Acadêmico Omar da Rosa Santos encerrou o seminário com palestra acerca da contribuição peculiar da histopatologia – o estudo do tecido celular onde a patologia atua – na investigação e tratamento da insuficiência renal aguda. Trouxe observações sobre 18 estudos histopatológicos realizados em seus pacientes no período de 1977 a 2016. Os casos clínicos apresentados eram de âmbito urológico, obstétrico ou traumato-cirúrgico.
Relatou que, no início das observações, os casos obstétricos eram maioria, por conta de problemas como aborto, transfusões incompatíveis e cesarianas. Foram realizadas 238 histologias patológicas em 226 pacientes, já que em alguns foram feitas mais de uma biópsia e em outros biopsia e necropsia.
O nefrologista concluiu ressaltando a importância da realização de biópsias em pacientes com insuficiência renal aguda. Comentou que em alguns dos casos, puderam ser observados dados peculiares que não teriam sido pensados se não fosse o estudo histopatológico e que a maioria teve benefício eficaz por conta do diagnóstico e utilização desse método.