Na tarde da última quinta-feira (5) a Academia Nacional de Medicina reuniu duas de suas missões em uma única atividade: promover o incentivo à pesquisa e à inovação científica e realizar um tributo à memória de seus ilustres Membros. Foi com esses objetivos em mente que foi elaborado o Simpósio Avanços em Cirurgia Oncológica Digestiva, organizado pelos Acadêmicos Silvano Raia e Rossano Fiorelli e coordenado pelos Drs. Antonio Luiz Macedo e Eduardo Linhares.
O Simpósio foi também uma homenagem ao Acadêmico Edmundo Vasconcelos, cuja carreira foi tema da fala do Acadêmico e cirurgião Silvano Raia. Sobre seu antecessor na Cadeira nº 30, ressaltou seu pioneirismo, afirmando que o Dr. Edmundo Vasconcelos esmerou até o limite do possível a arte de operar, reduzindo a duração do ato cirúrgico por meio de uma metodização por ele desenvolvida e sistematizando os tempos das principais cirurgias abdominais e torácicas. O Acadêmico estudou e resolveu problemas técnicos em muitos setores da cirurgia ainda inéditos em seu tempo e algumas de suas contribuições constituem-se até hoje em trabalhos princeps em diversas áreas. O cirurgião ocupou ainda muitos cargos e diversas funções, destacando-se como cirurgião do Sanatório Santa Catarina e do Hospital Alemão; cirurgião-chefe dos Sanatórios Populares de Campos do Jordão e do Sanatório Santa Cruz.
Com palestra intitulada “Cirurgia nos Tumores do Esôfago e Estômago”, o Dr. Antonio Talvane Torres de Oliveira (Américas Medial City) abordou em especial os procedimentos minimamente invasivos que, apesar de apresentarem aceitável morbidade, baixa mortalidade e baixos níveis de conversão, não contam com vasta literatura sobre o tema. Dessa forma, destacou a importância do aumento da implementação da cirurgia minimamente invasiva em todo o mundo. Apresentando os diversos tipos de ressecção e os padrões de disseminação dos tumores nessas regiões, salientou que a verdadeira mudança de paradigma nessa área ocorreu no ano de 2002, quando foi disseminada a prática de aliar o ato cirúrgico com a terapia neoadjuvante (quimio e radioterapia) no pré-operatório.
Ao final de sua apresentação, chamou atenção para as vantagens que o uso dessa técnica apresenta, incluindo a redução do trauma operatório, das complicações pulmonares e hemodinâmicas, salientando que a cirurgia minimamente invasiva fornece as mesmas possibilidades cirúrgicas que a cirurgia aberta convencional.
O médico Reinan Ramos (Hospitais São Lucas e Samaritano) discorreu sobre “Cirurgia nos Tumores do Cólon e Reto”, conferência durante a qual apresentou cinco técnicas para tratamento das neoplasias. Foram apresentadas a excisão total do mesocolon com ligadura vascular central; a excisão total do mesorreto por via robótica e por via transanal; o uso da estratégia “Watch & Wait” e o uso da quimioterapia de conversão. Apesar da grande variedade de técnicas, chamou atenção para o fato de que o principal fator diferencial é o próprio cirurgião, que deverá avaliar qual a melhor escolha em cada uma das situações.
Abordando “Cirurgia Hepatobiliar”, o Dr. Marcelo Enne (Hospital Federal de Ipanema) ressaltou que grande parte da evolução das ciurgias hepatobiliares se deu a partir do rompimento de três importantes paradigmas: o sangramento (controle vascular); a realização de cirurgia de tumores metastáticos e o desenvolvimento de alternativas terapêuticas para as doenças hepáticas, uma vez que sejam resolvidos os problemas de rejeição de tecidos.
Na conclusão de sua apresentação, ressaltou que existem hoje opções para transformar pacientes antes considerados “irressecáveis” em pacientes ressecáveis, aumentando consideravelmente a taxa de sobrevida a longo prazo. Destacou, ainda, a importância de uma abordagem multidisciplinar para o fornecimento de um atendimento “completo” aos pacientes.
Sobre “Cirurgia Pancreática”, o Dr. Eduardo Linhares (INCA) apresentou dados importantes sobre a epidemiologia da doença, ressaltando que a taxa de sobrevivência por mais de dez anos em pacientes com câncer pancreático é de menos de 1%; em contrapartida, cerca de 37% dos casos poderiam ser evitados, considerando-se os fatores de risco: 29% dos casos estão associados à exposição ao tabaco e 12% ao excesso de peso. Discorrendo sobre a seleção do tratamento, salientou que muito ainda precisa ser feito para a melhora dos resultados para os pacientes, afirmando que as novidades que estão por entrar no mercado fornecem um bom horizonte. Além desse fato, o cirurgião deverá escolher a técnica customizada ao paciente, uma vez que essa seleção é vital para bons resultados, principalmente quando aliada ao tratamento em contexto multidisciplinar.
No que se refere à “Cirurgia de Tumores do Peritônio”, o Dr. Jefferson Pierre de Mello (Beneficência Portuguesa) apresentou um histórico das cirurgias, ressaltando que antes dos trabalhos do Dr. Paulo Sugarbaker (1980), pacientes com carcinomatose peritoneal eram considerados pacientes terminais, nos quais realizava-se quimio ou cirurgia de maneira apenas paliativa.
Responsável por abordar “Radiologia Intervencionista em Cirurgia Oncológica”, o Dr. Hugo Gouveia (INCA) ressaltou que essa especialidade abrange procedimentos invasivos, usualmente utilizando agulhas e cateteres, guiados através do emprego de métodos de imagem para orientar o procedimento, reduzindo a necessidade de cortes cirúrgicos. Com a utilização desses recursos, o médico é capaz de localizar com precisão o alvo do procedimento, tornando-o seguro e eficiente. Destacou também que essa é uma especialidade diretamente associada aos avanços tecnológicos. Passou a descrever os diversos procedimentos terapêuticos empregados, como a ablação por radiofrequência, a quimioembolização, a drenagem biliar interna/externa, entre outros.
Com conferência intitulada “Cirurgia do Câncer de Pâncreas: Passado, Presente e Futuro”, o Dr. Antonio Luiz de Macedo (Hospital Albert Einstein) ressaltou que até 2025 o câncer pancreático será a principal causa de óbito associada a cânceres do aparelho digestivo no mundo, caracterizando uma doença endêmica em nosso meio, associada ao consumo excessivo de açúcares, farinha branca, álcool e o cigarro. Após a descrição dos primeiros procedimentos, ainda no ano de 1844, ressaltou que o cirurgião exerce um papel central nas pancreatectomias, principalmente por se tratar de um órgão complexo e de localização profunda, destacando a importância da experiência do cirurgião. Por fim, afirmou que o futuro da área está no desenvolvimento das técnicas de cirurgia robótica.