Maconha e Psiquiatria

11/03/2022

Inaugurando o calendário das atividades científicas da Academia Nacional de Medicina (ANM), o simpósio “Maconha e Psiquiatria” coordenado pelo Acad. Antonio Egídio Nardi e o Dr. José Alexandre Crippa, foi a primeira Sessão hibrida do ano. Reuniu cerca de 180 participantes online e 10 Acadêmicos presentes.

Abordando o tema “Canabidiol e transtornos de ansiedade”, Dr. Rafael Freire iniciou sua palestra mostrando dados onde é possível perceber que o transtorno de ansiedade e transtornos relacionados chegam a 31% ao longo da vida de um indivíduo e que são mais frequentes em mulheres. Apresentou estudos que mostram os impactos que os tipos de transtornos causam na vida das pessoas e também estudos que mostram como o uso do Canabidiol pode ajudar em alguns casos como o de transtorno de ansiedade social. Em doses exageradas pode se aumentar episódios de psicose, ataques de pânico e ansiedade. Ao decorrer de sua apresentação, mostrou dados onde indicam que o uso do Dronabinol não surtiu efeito em pacientes com câncer. Em sua conclusão, ressaltou que entre os canabinóides o Canabidiol é o mais seguro e que ainda é necessária muita pesquisa para embasar a eficácia do Canabidiol em vários casos de doenças.

O Dr. Thiago Fidalgo falou sobre “Maconha e marcadores inflamatórios” trouxe a informação que 4% da população mundial fez uso da maconha pelo menos 1 vez na vida de forma medicinal e que no Brasil esse número chega a 5%. Apresentou dados que a maconha está cada vez mais popular entre os jovens e que seu uso desenfreado tem aumentado os casos de jovens com transtornos mentais em hospitais. Destacou que foi feita uma pesquisa sobre o uso do Canabidiol no tratamento de doenças inflamatórias e que os resultados foram muito bifásicos e que ainda necessita do desenvolvimento de mais pesquisas na área para comprovar eficácia. Concluiu sua apresentação dizendo que a maconha e canabinóide não são a mesma coisa e que o uso da maconha não deve ser indicado para fins medicinais.

Na sequência, Dr. Ary Gadelha, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), abordou “Maconha e Psicose”, ressaltando que no Brasil há pelo menos 600 mil pessoas que são afetadas com esquizofrenia e que há diversos fatores para essa doença do neurodesenvolvimento afetar um indivíduo como exemplo, fatores genéticos e complicações obstétricas. Além disso, frisou que estudos apontam que o uso de Cannabis aos 18 anos pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de esquizofrenia, podendo se manifestar 15 anos depois, além do uso da maconha estar associado ao risco de psicose. Concluiu dizendo que nem todos os usuários de maconha irão desenvolver transtornos psicóticos, mas que o uso da maconha como forma medicinal deve ser evitado e que os pesquisadores precisam trazer mais dados sobre o tema.

Em seguida, o Dr. José Crippa abordou “Cuidados na prescrição do Canabidiol” apresentando uma pesquisa onde indica que o uso de maconha com pouco Canabidiol e muito THC pode induzir quadros psicóticos nos indivíduos que fazem seu uso. Durante a pesquisa foi relatado também que amostras de indivíduos com mais THC no cabelo apresentaram mais ansiedade, depressão e sintomas psicóticos. Com apresentação de dados do uso de Canabidiol em testes clínicos, mostrou que mesmo receitando Canabidiol para tratamento, cada caso necessita de uma dose específica, como o caso de pessoas com fobia social onde foi administrado a dose de 300mg que agiu como ansiolítico, outros pacientes como os mesmos problemas e com doses de 150mg e 600mg não foi notado efeito. O Canabidiol não tem efeito no tratamento da Covid-19 segundo os estudos apresentados depois de muitos testes clínicos. Demonstrou preocupação com a venda de produtos à base de Canabidiol livremente, pois não tem como saber a quantidade ou compostos contidos nesses produtos. Finalizando sua fala, disse que os efeitos do Canabidiol ainda precisam ser estudados com ensaios clínicos para cada diagnóstico tornando mais seguro o seu uso.

Encerrando as apresentações da noite, o Dr. Antônio Geraldo da Silva abordou “Psiquiatria e Maconha: o que temos e o que se apresenta” logo de início trouxe dados do Relatório Mundial sobre drogas feito pela ONU que mostra que 275 milhões de pessoas usaram drogas em 2021 e que 192 milhões de pessoas consumiram maconha. Ainda ressalta que cerca de 70% dos usuários de drogas consomem maconha, 22,1 milhões de usuários apresentam transtornos e são incapazes de parar de consumir maconha mesmo que o uso esteja causando danos a sua saúde. Por meio da apresentação de casos clínicos, discorreu sobre os efeitos associados ao uso de maconha em jovens, que mostram, por exemplo, queda no desempenho escolar. Expressou a preocupação do uso do termo “Maconha Medicinal” para diminuir o preconceito, pois isso também foi feito com a indústria do cigarro e que essa publicidade foi feita para dizer que todo produto feito à base de maconha é seguro o que pode ser nocivo a saúde pública. Concluiu dizendo que a medicina não é contra o uso de substância naturais quando há comprovação científica. 

Ao fim das apresentações, seguiu-se uma rodada de discussões sobre a eficácia não comprovada da maconha medicinal, uma vez que as indicações para seu uso são raras e existem poucas evidências de sua eficácia. Dessa forma a maconha torna-se potencialmente perigosa em jovens e adultos podendo levar ao desenvolvimento de possíveis transtornos psiquiátricos.

Para acessar a íntegra da sessão, os links são:

Parte I – https://www.youtube.com/watch?v=qKqW-nQofnw

Parte II https://www.youtube.com/watch?v=V-060jmjVIo

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