Acadêmico João Pedro Escobar Marques-Pereira
Porto Alegre, RS, 13 de março de 1933
† Rio de Janeiro, RJ, 6 de junho de 2017
Membro Titular – Academia Nacional de Medicina, em 31/07/2001
Em mais uma edição da tradicional “Sessão da Saudade”, a Academia Nacional de Medicina reuniu, a última quinta-feira (6), Acadêmicos, familiares, amigos e discípulos dos inesquecíveis Acadêmicos João Pedro Escobar Marques-Pereira, expoente da patologia clínica, e Umberto Perrotta, exímio cirurgião geral. Alguns daqueles que acompanharam as trajetórias exitosas dos Acadêmicos se reuniram no Anfiteatro Miguel Couto para a solenidade, tradicionalmente realizada em memória dos Acadêmicos falecidos, tendo sido marcada pela presença massiva dos confrades e pelos discursos emocionados.
Iniciando as mensagens de lembrança ao Acadêmico João Pedro Escobar Marques-Pereira, o Acadêmico e amigo Gilberto Schwartsmann agradeceu pela honrosa oportunidade de homenagear João Pedro Marques-Pereira, que chamou de “médico de todos os méritos”. Discorreu sobre a última vez na qual se encontrou com o Acadêmico, por ocasião de sua posse como Presidente da Academia Sul-Riograndense de Medicina. Sobre as palavras que utilizou para despedir-se de João Pedro Marques-Pereira, afirmou serem estas palavras do coração, evidenciando a relação amistosa e fraterna que cultivou com o mestre.
O Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo iniciou seu discurso chamando atenção para a tradição da prática médica dentro da família do Acadêmico homenageado. Com “o requinte e sofisticação que lhe eram característicos”, o Acadêmico José Camargo narrou a trajetória de João Pedro Marques-Pereira em todos os patamares da vida universitária, discorrendo sobre o amor e a determinação com o qual se dedicou à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Os dotes que classificam as pessoas como especiais não se desenvolvem de improviso”, afirmou o Acadêmico, ressaltando características como inteligência, senso de humor, erudição, delicadeza e espontaneidade.
Em seguida, o Acadêmico Carlos Gottschall falou emocionadas palavras sobre aquele que fora seu “padrinho” quando de sua posse como Membro Titular em 2006, referindo-se à saudação proferida por João Pedro Marques-Pereira na ocasião. Dentre as inúmeras características do Acadêmico, Carlos Gottschall ressaltou sua natureza quase que completamente despojada de vaidades, reafirmada em suas contínuas recusas em fazer “alarde” de seus feitos, mesmo aqueles mais significativos.
Também fizeram homenagens os Acadêmicos José Carlos do Valle, Pietro Novellino e Francisco Sampaio, que ressaltou que João Pedro Marques-Pereira foi sempre um grande incentivador das transformações pelas quais passou a Academia Nacional de Medicina, a qual frequentou até a semana anterior ao seu falecimento.
Em nome da família, falou a filha do Acadêmico João Pedro Marques-Pereira, que afirmou ser um grande conforto e fonte de forças para toda a família observar como seu pai foi querido, agradecendo à presença de todos e pelas doces palavras proferidas em homenagem ao Acadêmico.
João Pedro Escobar Marques-Pereira nasceu em 13 de março de 1933, em Porto Alegre (RS). Graduou-se em Medicina, em 1956, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-Graduação em Histologia e Embriologia na Universidade do Estado de São Paulo (USP), sob orientação do Prof. Dr. Luiz Carlos Uchôa Junqueira. Professor Auxiliar de Ensino da Disciplina de Histologia e Embriologia da UFRGS (1958), aprovado com distinção. Doutor em Medicina, mediante defesa de tese, realizada em 1959.
Como Professor Titular de Histologia e Embriologia, contribuiu na implementação das seguintes Faculdades do Estado do Rio Grande do Sul: Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Faculdade de Medicina da cidade de Rio Grande e Faculdade de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Em 1971, teve o privilégio de ser aluno do Prof. Jean Dausset – prêmio Nobel de Medicina – no curso teórico-prático sobre antígenos leucocitários humanos (sistema HLA). Fundou e organizou o Setor de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde exerceu a função de Chefe do Serviço de Hemoterapia do HCPA até 1º de maio de 2007. Presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (1996-1998), eleito por unanimidade de votos. Chefe do Departamento de Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS (2000-2003).
Elaborou o projeto para instalação de um Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário, para o governo do Estado do Rio Grande do Sul (2004), como representante do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Em 2006, foi eleito para a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e, no ano seguinte, foi escolhido por seus pares para assumir a Vice-Presidência.
Diretor Técnico do Laboratório Marques Pereira, prestando serviços de Medicina Transfusional ao Instituto de Cardiologia e ao Hospital Ernesto Dornelles.
Na ocasião de sua candidatura como Membro Titular na Academia Nacional de Medicina, apresentou memória intitulada “Estudos Históricos das Fibras do Sistema Elástico na Matriz Extracelular da Mucosa do Bulbo Duodenal Humano Normal”.
Acadêmico Umberto Perrotta
Paola, Itália, 22 de março de 1924
† Rio de Janeiro, RJ, 1º de novembro de 2016
Membro Emérito – Academia Nacional de Medicina, em 09/04/2015
Na sequência, amigos e familiares do mestre Umberto Perrotta também prestaram homenagens ao insigne cirurgião geral, que destacou-se não só pela excelência acadêmica, mas também pelo legado deixado para seus discípulos, de muita dedicação e amor pela Medicina.
Coube ao Acadêmico Henrique Murad iniciar os discursos da tarde, saudando o colega de profissão e amigo de muitos anos, ao lado de quem atuou durante longo período na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde Umberto Perrotta galgou todas as etapas da vida universitária, desde o vestibular até a posição máxima de professor Titular de Clínica Cirúrgica. Discorreu sobre as raízes italianas do Acadêmico e sobre a emigração para o Brasil, afirmando que os contrastes das realidades italiana e brasileira “deve ter sido um choque” para o jovem Perrotta. Falou também sobre sua constante preocupação com a qualidade do ensino médico no Brasil, afirmando que o Acadêmico considerava “falta mortal” que um professor deixasse de ministrar uma aula.
O discípulo de Umberto Perrotta, Acadêmico Delta Madureira, iniciou suas palavras afirmando que apenas a Academia Nacional de Medicina seria digna de imortalizar o espírito de um mestre tão proeminente quanto Umberto Perrotta. Chamou atenção para a intensa atividade do Acadêmico, que dedicou praticamente toda sua vida ao ensino na UFRJ. Para Delta Madureira, seu discurso de poucos minutos jamais seria o suficiente para ressaltar o legado deixado em vida por Umberto Perrotta, que ultrapassou as fronteiras da Medicina e chegou a assuntos como a política nacional e a educação médica.
O Presidente Acadêmico Francisco Sampaio proferiu também algumas palavras, ressaltando que Umberto Perrotta foi um vulto da Medicina brasileira, que possuía na vida a precisão cirúrgica que utilizava na prática médica. Também se manifestaram os Acadêmicos Pietro Novellino, Nestor Schor, Sergio Augusto Pereira Novis, José Galvão Alves e Rossano Fiorelli, que sucedeu o Acadêmico na Cadeira 21 da Secção de Cirurgia.
A esposa do Acadêmico Umberto Perrotta, Mari-Pepa, afirmou que as palavras recebidas nessa sessão tão especial formam um “jardim” para reconforta-la. Falaram também suas filhas, que agradeceram pela organização da solenidade nesta imponente e histórica casa a qual Umberto Perrotta orgulhosamente pertenceu.
Umberto Perrotta nasceu em Paola, Calábria, Província de Cosenza, na Itália, em 22 de março de 1924. Graduou-se em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (1947), hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em seu extenso e rico curriculum, sobressaem os aspectos de atividades docentes e universitárias. Na grande listagem de posições conquistadas, destacam-se duas Livres Docências em Clínica Cirúrgica e intensa atividade didática em nível de pós-graduação, sobretudo nos cursos de Mestrados e Doutorado em Cirurgia, que ajudou a criar, coordenou e ao qual tanto se dedicou.
Participou como membro de bancas examinadoras 160 vezes, nos diversos níveis universitários, apresentou centenas de palestras e publicou diversos artigos e capítulos de livros. Amava e muito valorizava a atividade universitária. Sempre defendia veementemente suas posições, visando o bem do serviço público, o bem do aluno e o bem do paciente.
A par das atividades universitárias, desenvolveu sua atividade cirúrgica na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, tendo ocupado posições técnico-administrativas importantes no Hospital Rocha Faria, Moncorvo Filho e Getúlio Vargas.
O Presidente, Acadêmico Francisco Sampaio, lembrou que o Perrota foi dos Acadêmicos que frequentou mais assiduamente as sessões da Academia Nacional de Medicina, sempre se manifestando em plenária. Lembrou ainda que na última Sessão Plenária da Academia Nacional de Medicina na qual ocorreu eleição, em 27 de outubro, exerceu ainda o direito a voto por correspondência, tendo votada nas 3 cadeiras do pleito.
O Acadêmico Francisco Sampaio lembrou que fez questão de honrar a tradição da Casa, que Perrota tanto amou, fez questão que o mesmo fosse velado no Salão Nobre da Academia Nacional de Medicina, em cerimônia que reuniu familiares, Acadêmicos, amigos, funcionários, alunos e discípulos, dentre tantos outros que prestaram uma última homenagem ao ilustre cirurgião.