No dia 29 de Junho o Curso de atualização em Ciências Médicas da ANM teve como tema a Alergia Alimentar. A aula foi ministrada pelo acadêmico Aderbal Magno Caminada Sabrá.
O Professor Aderbal Sabrá é graduado em Medicina pela Universidade Fedral Fluminense (UFF), Doutor em Pediatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui três Pós-doutorados nos Estados Unidos: University of Colorado (1974), Wayne State University (1985) e Georgetown University (2006). Foi Professor Adjunto de Pediatria da UFRJ de 1970 a 2006. Atualmente é Coordenador Acadêmico da Escola de Medicina da Unigranrio, “Visiting Scientist” e “Senior Staff” do ICISI da Georgetown University e Membro Honorário da Sociedade de Pediatria do Atlântico. É membro da ANM, ocupando a cadeira de nº 52.
O professor Sabrá iniciou a aula definindo a Alergia Alimentar (AA) como reações do sistema imunológico contra proteínas presentes em um determinado alimento. Tais reações podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão do alimento.
Em relação à epidemiologia da AA, o palestrante nos informa que houve um aumento na prevalência de AA em crianças e que alguns fatores contribuíram para este quadro, sendo o mais importante destes, sem dúvida alguma, a amamentação inadequada (leite não-materno). Além deste aspecto, o Prof. Sabrá também cita o excesso de higiene e o uso indiscriminado de antibióticos e antiácidos, como outros fatores que contribuem para tal quadro.
Segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, cerca de 30% da população mundial sofre com algum tipo de alergia. Já as alergias alimentares atingem 5% da população.
No Brasil, o maior causador de alergias alimentares é o leite e seus derivados. Além desses, o trigo, a soja, peixes, clara de ovo, cacau, crustáceos e moluscos são alimentos que provocam alergias com frequência, disse o Prof. Sabrá.
A fisiopatologia da AA pode ser compreendida ao se estudar aspectos básicos da imunologia humana. Em resumo, segundo o palestrante, podemos ter dois tipos de AA: a primeira se dá devido ao aumento da produção de IgE, de base humoral, chamada TH2; e a segunda, chamada de TH1, de base celular, ocorre devido ao aumento das células CD8 em relação às células CD4.
Quanto à classificação clínica, além das AA TH1 e TH2, temos também a AA mista (com traços de ambos os tipos) e a AA por outro mecanismo não-conhecido.
Ainda segundo o Prof. Sabrá, toda criança nasce TH2 e com predisposição a ser alérgica. O aleitamento materno exclusivo, nos primeiros oito meses de vida, faz com que haja maturação do sistema TH1, o que reduz exponencialmente as chances de alergia alimentar nesta criança.
A suspeita inicial de AA acontece quando o paciente apresenta um quadro clínico compatível com alergia por ocasião da ingestão de um determinado alimento.
Caso a alergia seja do tipo TH2, as reações são anafiláticas, ou seja, se apresenta um quadro de alergia “clássica”: urticárias, coceira e vermelhidão na pele, cólicas e diarreia, dispneia e broncoespasmos, além de outros sintomas, podem surgir. E o surgimento do quadro clínico pode ocorrer após alguns minutos ou horas da ingestão do alimento.
Já as alergias do tipo TH1, segundo o Prof. Sabrá, demoram um pouco mais para se manifestar: entre 24h/ 48h e até uma semana após a ingestão do alimento. As reações podem se manifestar com cólicas, dor abdominal, diarréia, dermatite, rinite, asma etc.
Em relação ao diagnóstico de AA, o palestrante nos afirma que a anamnese e o exame físico são fundamentais para alcançar tal objetivo. E além da história clínica, cita 03 tipos de testes que podem ser utilizados para ratificar o diagnóstico: provas diagnósticas (como os testes cutâneos, dosagem de IgE e outros); provas dietéticas (retirada do alimento da dieta e testes de provocação) e provas terapêuticas (quando o tratamento bem-sucedido confirma o diagnóstico).
Em relação ao tratamento, o Prof. Sabrá afirma que a única forma eficaz de tratamento de alergia alimentar é excluir totalmente da dieta do paciente o alimento que contenha o alergeno, substituindo este alimento por outro similar.
Além de retirar o alimento causador da alergia, é preciso também tratar o quadro clínico presente (respiratório, intestinal, dermatológico etc). Nestes casos, medicamentos como anti-histamínicos e corticoides podem ser indicados. As vacinas orais para tratamento de AA ainda estão em estudos, segundo o professor.
Ao fim da aula, o Prof. Sabrá se colocou à disposição dos alunos, respondendo a várias perguntas e retirando as dúvidas dos docentes sobre o tema.