Em um Simpósio que extrapolou a tradicional Sessão Ordinária das quintas-feiras, a ANM realizou, nos 29 e 30 de junho, o Simpósio “Falta de Reprodutibilidade em Pesquisa Biomédica: uma ameaça real à Ciência”, organizado pelo Acadêmico Marcello Barcinski. Além do Acadêmico, os participantes do Programa Jovens Lideranças Médicas (PJLM) da ANM também participaram da organização do evento, através do Comitê Científico do programa, que tem o objetivo de fomentar um ambiente favorável à criação e implantação de ideias transformadoras para a Medicina brasileira. Inspirado no “Young Physician Leaders”, da Rede Global de Academias de Medicina (IAP for Health), o “Jovens Lideranças Médicas” foca na questão do desenvolvimento de qualidades de liderança entre os profissionais de saúde e existe na ANM desde 2014, com o apoio da Bayer do Brasil.
Durante os dois dias de apresentações, foram abordados importantes aspectos relativos à reprodutibilidade da pesquisa científica, passando desde a definição de conceitos como confiabilidade até a apresentação das diferentes visões acerca do tema, incluindo pesquisadores, editores de revistas científicas e agências de fomento.
Após a apresentação do Programa Jovens Lideranças Médicas pelo Dr. André Báfica (UFSC), o Dr. Ary Gadelha apresentou conferência intitulada “Definição dos Conceitos de Reprodutibilidade e Confiabilidade em Pesquisa Biomédica e Contextualização do Problema”, durante a qual reafirmou a importância de trabalhar para garantir que a comunidade de pesquisa biomédica se engaje em discussões para implementar modificações acerca deste grave problema.
Sobre a “Visão do Pesquisador”, o Dr. João Batista Calixto chamou atenção para o fato de que a cultura competitiva e baseada em “recompensas” acabou por gerar uma grave crise ética no mundo acadêmico, que sofre com inúmeros casos de fraude de resultados e ocultação de resultados negativos.
Representando as agências de fomento, o Acadêmico Marcelo Morales, Diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, defendeu que essas instituições possuem um importante papel na reprodutibilidade, promovendo uma maior abertura e transparência de métodos e dados; publicação de resultados nulos ou negativos e fazendo com que as descobertas tenham acesso aberto a toda a população.
Na etapa dedicada às revistas científicas, falaram a Dra. Claude Pirmez (Memórias do Instituto Oswaldo Cruz) e o Acad. Antonio Nardi (Revista Brasileira de Psiquiatria), abordando importantes fatores com o fator de impacto, número de citações e as indexações, discorrendo sobre como estes se relacionam com a problemática da falta de reprodutibilidade e quais os principais desafios.
Presidente do grupo de trabalho que redigiu o documento “A call for action to improve the reproducibility of biomedical research”, do IAP for Health, a Dra. Dorothy Bishop também contribuiu para as discussões, participando por videoconferência da rodada de debates. Além deste fato, o Dr. Jonas Alex Saute (UFRGS) apresentou entrevista gravada com a Dra. Bishop, abordando os principais desdobramentos da falta de reprodutibilidade e os princípios que nortearam a redação do documento oficial.
Às 18h, o Presidente Acad. Francisco Sampaio abriu a Sessão Plenária da Academia, dando início à segunda etapa do Simpósio e agradecendo à Bayer Brasil pelo apoio ao Programa Jovens Lideranças Médicas e ao Acad. Marcello Barcinski pela forma enérgica com a qual vem coordenando o Programa ao longo dos anos. Discorreu sobre sua experiência – o Acadêmico esteve à frente da revista International Braz J Urol por onze anos e pôde dividir alguns dos principais desafios do ramo das publicações científicas. No período em que Francisco Sampaio foi editor, a revista obteve todas as indexações e passou a ser a revista número 1 no ranking das revistas de urologia, cirurgia e especialidades cirúrgicas na América Latina e Península Ibérica, tendo sido a 3ª revista de maior impacto em todas as especialidades médicas e biológicas no período.
As conferências magnas ficaram a cargo dos Professores Sonia Vasconcelos e Olavo Bohrer, ambos do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Com palestras abordando temas como a cultura de desconfiança entre os pesquisadores e o sistema de revisão atual para publicação em revistas científicas (“peer review”), os professores sugeriram inovações não só metodológicas, mas também na conduta dos próprios pesquisadores.
Na continuação do Simpósio, na manhã do dia 30 de junho, a mesa redonda “O que podemos aprender com disciplinas dentro e fora da pesquisa biomédica?” buscou apresentar diferentes pontos de vista na construção de um ambiente acadêmico favorável à reprodutibilidade da pesquisa biomédica. Tomaram parte o Prof. Dr. Luiz Davidovich, Presidente da Academia Brasileira de Ciências; a Profa. Dra. Iscia Lopes Cendes, do Laboratório de Genética Molecular e a Dra. Sandra Abrahão, Diretora da Área Médica da Bayer Brasil.
Além da participação ativa dos estudantes que compareceram ao Simpósio, uma das iniciativas associadas ao projeto foi a abertura de disciplinas em cursos de pós-graduação em diferentes locais do Brasil, onde os alunos puderam acompanhar as palestras por meio da transmissão ao vivo no site da ANM. Os estudantes fizeram perguntas, interagiram com os palestrantes e participarão também da redação do documento oficial do Simpósio, que consistirá em um manifesto da Ciência Nacional pela reprodutibilidade em pesquisa biomédica.