Especialistas em Cirurgia de Cabeça e Pescoço se reúnem em Jornada na ANM

27/04/2017

O tradicional Anfiteatro Xavier Sigaud, localizado no oitavo andar da sede da ANM, foi mais uma vez palco de uma Jornada de Cirurgia, nesta edição dedicada a discutir Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Ficou a cargo dos Acadêmicos Jacob Kligerman e Ricardo Cruz a moderação da Jornada, que forneceram um panorama de suas experiências pessoais na área. Em sua fala introdutória, o Acadêmico Jacob Kilgerman destacou o rápido avanço característico deste ramo, afirmando que um especialista que passa mais de um ano sem atualizar suas técnicas operatórias não pode ser considerado um cirurgião de cabeça e pescoço.

Com palestra intitulada “A Prototipagem no Planejamento Cirúrgico”, o Dr. Terence Farias (INCA) apresentou as diversas aplicações da técnica, que pode auxiliar procedimentos em diversas áreas, como Medicina e Odontologia. A prototipagem se refere a um conjunto de tecnologias usadas para a fabricação modelos físicos, que podem ser úteis na fabricação de próteses, diagnósticos, planejamento de tratamentos e procedimentos cirúrgicos, fabricação de peças anatômicas específicas e diminuição do tempo cirúrgico. Em seguida, apresentou casos da aplicação da prototipagem em cirurgias de reconstrução mandibular, analisando comparativamente os ganhos na utilização da técnica.

O Dr. Terence Farias discorreu sobre os benefícios do uso da prototipagem na Medicina

Na conclusão de sua conferência, ressaltou que o uso da prototipagem possibilitou uma diminuição no grau de perda óssea do paciente, reduzindo assim a morbidade no local doador do retalho ósseo. Além deste fato, o procedimento possui a tendência de reduzir o tempo cirúrgico, uma vez que as placas pré-moldadas e a escolha prévia dos parafusos facilitam a cirurgia. Por fim destacou que os resultados estéticos do procedimento resultam em desdobramentos psicológicos muito positivos para o paciente.

Coube ao Acadêmico Ricardo Cruz abordar “Reconstrução de Defeitos de Continuidade Mandibular com Proteína Morfogenética BMP2”, abordando um breve histórico do procedimento e o trabalho desenvolvido no Instituto Nacional de Traumatologia. A técnica consiste na utilização da combinação de uma proteína de osso humano (RhBMP-2) aplicada em esponja de colágeno, possibilitando a formação de ossos em certas aplicações. Dentre os benefícios para o paciente, destacou a baixa morbidade, redução do tempo cirúrgico e de internação, o retorno mais rápido às atividades normais do paciente e a redução significativa do risco cirúrgico.

Um dos organizadores do evento, o Acad. Ricardo Cruz falou sobre as inovações da engenharia de tecidos

Na conclusão de sua apresentação, chamou atenção para o aspecto humanitário envolvido nos resultados obtidos por meio desta técnica. Destacou, ainda, o positivo impacto psicológico na vida dos pacientes, que afeta diretamente sua qualidade de vida. Ressaltou, por fim, que mecanismos deste tipo abrem as portas para novas possibilidades de tratamento, que podem incluir pacientes de trauma, pacientes que já foram portadores de câncer, dentre outros.

O Dr. Fernando Dias (INCA) fez conferência sobre “Terapia Alvo Molecular para o Cirurgião de Cabeça e Pescoço”, definindo Terapia Alvo como a utilização de drogas ou outras substâncias concebidas para bloquear o crescimento e a propagação do câncer, impedindo que as células cancerosas se dividam ou destruam células diretamente, por meio da interferência nos genes ou proteínas envolvidas no crescimento tumoral. Destacou o uso da Cisplatina (CDDP), um complexo químico que possui propriedades semelhantes aos agentes alquilantes. Sua baixa toxicidade é considerada uma vantagem para o tratamento de pacientes com câncer na área da cabeça e pescoço, principalmente aqueles com doença localmente avançada.

O Dr. Fernando Dias durante sua palestra

Em conclusão, afirmou que a Terapia Alvo no tratamento de câncer de cabeça e pescoço deve ser utilizada em concomitância com a radioterapia nos casos de doença localmente avançada, visando aumentar a sobrevivência e a qualidade de vida do paciente. Para os casos de doença recorrente ou metastática, afirmou que a maioria dos doentes em estágio III ou IV são candidatos apenas para tratamento paliativo com intuito de aliviar sintomas.

Na sequência, o Dr. Roberto de Araújo Lima (INCA) discorreu sobre “Cirurgia Robótica: Indicações nos Tumores de Cabeça e Pescoço”, apresentando um panorama dos procedimentos realizados. Abordando a tireoidectomia, o cirurgião ressaltou que a principal vantagem da utilização da cirurgia robótica é estética, pela redução do tamanho da incisão e consequentemente das cicatrizes. Todavia, fatores como o maior custo operatório e uma maior quantidade de complicações pós-operatórias figuram como importantes desvantagens. Em contrapartida, no esvaziamento cervical, a utilização da robótica confere, além de melhores resultados estéticos, melhor acesso e diminuição do volume de drenagem.

O Dr. Roberto de Araújo Lima fez quadro comparativo das vantagens e desvantagens da cirurgia robótica

Em uma análise final, o Dr. Roberto de Araújo Lima concluiu que, de maneira geral, as vantagens da utilização do equipamento robótico incluem um acesso menos agressivo, redução das incisões e a redução do tempo de cirurgia. Todavia, em um país em desenvolvimento como o Brasil, torna-se necessário considerar a necessidade de treinamento dos médicos e os altos custos envolvidos.

Encerrando a rodada de apresentações, o Dr. Juliano Sbalchiero (INCA) abordou “Reconstrução Microcirúrgica em Cabeça e Pescoço”, destacando que a técnica possibilita a transferência de tecidos à distância, a realização de microanastomoses vasculares, dissecção de pedículos vasculares, dentre outros. Ressaltou que atualmente, a utilização de microcirurgia possibilitou minimizar a morbidade e maximizar os resultados estéticos e funcionais tanto da área doadora quanto da área a ser reconstruída. Discorreu, então, sobre o estado da arte da microcirurgia, abordando técnicas como a supermicrocirurgia e a realização de microcirurgia robótica.

O Dr. Juliano Sbalchiero abordou a microcirurgia de cabeça e pescoço

Respondendo ao questionamento sobre o que considera ser o futuro da microcirurgia, o Dr. Juliano Sbalchiero ressaltou a chamada Engenharia de Tecidos, a utilização de retalhos pré-fabricados e os alotransplantes. Abordou a polêmica sobre a realização de transplantes de face, destacando que a utilização de alotransplantes compostos vascularizados possibilitou resultados além dos possíveis com técnicas convencionais.

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