ANM realiza Simpósio sobre os usos da Medicina Nuclear na prática clínica

27/04/2017

Na Sessão da última quinta-feira (27), a ANM realizou mais um Simpósio de grande impacto científico. Com a organização do Presidente Acadêmico Francisco Sampaio e do Dr. Claudio Tinoco (Hospital Pró-Cardíaco), o Simpósio reuniu diversos especialistas que apresentaram as mais diversas aplicações da Medicina Nuclear, desde o diagnóstico até o tratamento de doenças.

A primeira apresentação do Simpósio foi feita pelo Dr. Jader Cunha de Azevedo (Hospital Pró-Cardíaco), intitulada “Avaliação das Doenças Cardiovasculares na Era da Multimodalidade”. Destacou que, para as doenças cardiovasculares, a abordagem exclusivamente clínica mostrou-se limitada quando comparada à predição de risco através de métodos complementares associados. Acerca dos avanços na medicina nuclear, destacou a existência de novos protocolos, a utilização de câmeras com aquisição cardiocêntrica e a criação de novos algoritmos de reconstrução de imagem, que resolvem o problema da baixa resolução das imagens. O resultado advindo da evolução destas técnicas foi a execução de exames mais rápidos e com menores doses de radiação.

Abordando a multimodalidade, concluiu que a associação de dois ou mais métodos resulta em inúmeros ganhos para o paciente, como uma maior precisão da localização anatômica, laudos mais precisos, estratificação de risco mais acurada, menor necessidade de follow up e uma maior redução da exposição à radiação e do tempo do exame.

Discorrendo sobre o uso de “SPECT e PET nas Doenças Neurológicas e Psiquiátricas”, a Dra. Maria Fernanda Rezende (Hospital das Américas) apresentou comparativo destas tecnologias com outras modalidades como o Raio X, afirmando que estes métodos são geradores de radiação, que é transmitida pelo organismo do paciente, gerando imagens anatômicas/morfológicas. Já nos casos do SPECT e PET, a radiação é emitida pelo paciente e captada pelos aparelhos, gerando imagens metabólicas, funcionais e fisiológicas.

As aplicações na Neurologia incluem a identificação de tumores, demências, epilepsia, doença cerebrovascular, morte encefálica, traumas, Doença de Alzheimer e de Parkinson, entre outras. Para esta última, concluiu que, com o uso da medicina nuclear, é possível realizar o diagnóstico diferencial de pacientes com tremores iniciais e, se for o caso, excluir o diagnóstico de Doença de Parkinson com um bom grau de confiança. Além disso, este diagnóstico permite a suspensão da medicação antiparkisoniana, evitando deterioração clínica.

A respeito de “Investigação e Terapia das Doenças Endócrinas por Medicina Nuclear”, o Dr. Nilton Lavatori Correa (Hospital Pró-Cardíaco) ressaltou que o uso de técnicas como a cintilografia de tireoide possuem diversas indicações como a avaliação de hipertireoidismo, a determinação do estado funcional dos nódulos, detecção de tecido tireoidiano ectópico, diagnóstico diferencial de massas mediastinais, detecção de metástases de câncer diferenciado de tireoide, dentre outros. Sobre o uso de SPECT/CT na tireoide, ressaltou que este fornece informações precisas sobre localização anatômica e caracterização anatômico-funcional dos focos de captação radioiodo, aumentando a acurácia do exame e diminuindo resultados falso-positivos.

Dr. Nilton Lavatori Correa discorreu sobre as diferentes aplicações da medicina nuclear no diagnóstico e tratamento das doenças endócrinas

Por fim, abordou o carcinoma diferenciado de tireoide, que pode ser tratado por meio da combinação de cirurgia, intervenção medicamentosa (levotiroxina) e o uso de iodo radioativo, que, quando utilizado em doses adequadas, pode destruir células cancerígenas da tireoide, com pouco ou nenhum efeito colateral para o paciente.

Com palestra intitulada “Uso da Medicina Nuclear em Condições de Emergência”, o Dr. Gustavo Borges Barbirato (Hospital das Américas) destacou que, tendo em vista os inegáveis avanços da medicina nuclear, a integração das equipes de emergência e assistente são fundamentais para o melhor aproveitamento e compreensão dos exames disponíveis. Apresentou, então, uma sequência de casos clínicos nos quais a correta interpretação dos exames tornou-se o diferencial da manutenção da vida do paciente, proporcionando diagnósticos precisos e possibilitando ações rápidas por parte da equipe médica.

Em seguida, a Dra. Renata Christian Martins Felix (INCA) abordou o “Uso da Medicina Nuclear em Oncologia”. Com relação às aplicações do SPECT-CT na Oncologia, destacou seu uso na detecção de metástases ósseas com cintilografia com MDP; a linfocintilografia; a cintilografia com octreotide; cintilografia com MIBG e a cintilografia de corpo inteiro com iodo radioativo. Já no caso do PET-CT, ressaltou seu uso na monitorização da terapia, avaliando a resposta terapêutica pela alteração da captação do radiofármaco FDG e também na diferenciação de tumor viável de lesão cicatricial residual.

Durante sua apresentação, destacou a importância do uso de imagens híbridas (funcionais e anatômicas), que fornecem, entre outros benefícios, identificar alterações estruturais e funcionais, uma maior acurácia da localização anatômica e a identificação de processos patológicos específicos. Salientou também seu importante papel no manejo do paciente oncológico. Ao final de sua conferência, frisou que uma maior disponibilidade destes métodos permitirá o melhor cuidado dos pacientes neste cenário clínico.

Na sequência, o médico e organizador do Simpósio, Dr. Claudio Tinoco, apresentou conferência intitulada “Diagnóstico e Tratamento dos Tumores Neuroendócrinos”, caracterizando-os como um grupo de cânceres incomuns, de crescimento (em geral) lento, que se desenvolvem a partir de células do sistema endócrino. Essas células produzem hormônios em quase toda a extensão do corpo humano e, quando do aparecimento dos tumores, podem entrar em atividade excessiva, gerando quadros clínicos variados.

Organizador do Simpósio, o Dr. Claudio Tinoco abordou o tratamento de tumores neuroendócrinos

O uso da medicina nuclear para estes casos pode ter diversos objetivos, como o estadiamento de pacientes com tumores diagnosticados recentemente e suspeita de recidiva; detecção de pequenos tumores; avaliação do status de receptores antes da escolha da terapia e até mesmo o follow-up do tratamento.

Após o Chá Acadêmico, coube ao Dr. Miguel Srougi abordar “PET com 68Ga-PSMA e Uso do Radio-223 na Prática Urológica”. A respeito do primeiro, ressaltou que atualmente, o exame feito por PET/CT é utilizado para avaliação pré e pós tratamento de tumores. Até então, os resultados alcançados com o exame do PET/CT no câncer de próstata não se mostravam promissores. Mudando de maneira expressiva o panorama, a utilização radiofármaco 68Ga-PSMA se baseia na presença de uma proteína na superfície das células do câncer de próstata, que pode ser encontrada tanto no tumor quanto nos focos de metástase, possibilitando localizar o tumor. Acerca do uso do Radio-223, destacou a expectativa existente em torno de sua aprovação para o tratamento do câncer de próstata metastático resistente à castração, sendo este o primeiro agente terapêutico emissor de partículas alfa aprovado pela Food and Drug Administration (dos Estados Unidos) que demonstrou melhorar a sobrevida global e postergar os primeiros sintomas de metástase óssea.

Dr. Miguel Srougi, Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina

Na conclusão de sua palestra, o urologista provocou a plateia presente com a pergunta “Para onde estamos indo?”, apresentando os desafios que se colocam para os oncologistas, principalmente frente a uma tendência global de aumento da expectativa de vida. Abordou, ainda, a prevenção do câncer de próstata, chamando atenção para os chamados “fatores de proteção”, como a manutenção de uma vida sexual ativa, a prática regular de atividade física e a diminuição do consumo de álcool e tabaco.

Palestrantes do Simpósio ao final das apresentações

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