A Sessão Plenária de 17 de novembro na Academia Nacional de Medicina recebeu, além do Simpósio “Saúde Pública e Infecções Fúngicas no Brasil”, uma importante conferência do Dr. Rodrigo Vianna (Jackson Memorial Hospital, Miami, EUA) a respeito de Transplante Multivisceral.
O Dr. Rodrigo Vianna possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (1994) e doutorado em Medicina (Cirurgia do Aparelho Digestivo) pela Universidade de São Paulo (2014). O médico, natural de Curitiba, é um dos profissionais mais experientes em transplantes múltiplos de órgãos e, em 2013, foi nomeado diretor do Serviço de Transplantes e Chefe do Departamento do Transplantes Gastrointestinais e Fígado do Instituto de Transplantes de Miami, Flórida.
Em 2012, assumiu o cargo de Diretor de Transplante de Órgãos Sólidos do Miami Transplant Institute, onde trabalha atualmente. A unidade é considerada um dos maiores centros de transplantes do mundo, com mais de 10 mil procedimentos já realizados, e um dos poucos lugares onde o transplante multivisceral pode ser realizado.
Autor e coautor de um total de 169 artigos em revistas internacionais de impacto sobre Transplantes e membro de várias entidades médicas como a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral, o reconhecimento de seu trabalho hoje ultrapassa as fronteiras do meio médico, chegando à mídia internacional depois dos transplantes de sucesso das crianças Pedrinho e Sofia, que sofriam de síndromes graves e foram submetidas a transplantes de múltiplos órgãos.
E, como reconhecimento da magnitude do trabalho desenvolvido pelo cirurgião, a Sessão Plenária realizada no dia 27 de outubro consagrou novamente a carreira do Dr. Vianna, quando o elegeu, por aclamação, Correspondente Estrangeiro da Academia Nacional de Medicina. A honraria foi alcançada mediante a indicação do Acadêmico Silvano Raia, que entregou o diploma ao novel Correspondente Estrangeiro na Sessão de 17 de novembro, ocasião na qual apresentou conferência sobre Transplante Multivisceral.
Falando sobre sua experiência, o Dr. Rodrigo Vianna discorreu sobre os vários tipos de enxerto possíveis por meio desta técnica, como os de intestino isolado, fígado-intestino, fígado-pâncreas-intestino, cólon, dentre outros. Também afirmou que, apesar de o transplante multivisceral representar a quebra de mais uma barreira no tratamento de doenças complexas, existem alguns desafios a serem superados, como as infecções e rejeição (síndromes como a “Doença do Enxerto contra o Hospedeiro” e “Transtorno Linfoproliferativo Pós-transplante”).
Sobre as indicações para a realização deste procedimento, chamou atenção para o fato de que a maioria das indicações está relacionada com as complicações decorrentes do uso da nutrição parenteral a longo prazo, que pode causar infecções de cateter com sepse, trombose de acessos centrais e doença hepática. Além destes casos, o transplante multivisceral também pode ser indicado em casos de trombose extensa do sistema portal, tumores de crescimento lento e em casos nos quais a qualidade de vida do paciente é diretamente afetada por outros tipos de tratamento. A avaliação dos pacientes é realizada por uma equipe multidisciplinar, que inclui, além do cirurgião, gastroenterologistas, nutricionistas, farmacêuticos, infectologistas, assistentes sociais, psicólogos e fonoaudiólogos, que irão determinar os exames a serem realizados e o “custo-benefício” para a qualidade de vida do paciente. Nesse sentido, a individualidade de cada caso é de extrema importância, uma vez que cada procedimento é personalizado e adaptado às necessidades de cada paciente.
Ao final de sua palestra, o Dr. Rodrigo Vianna apresentou alguns de seus casos de sucesso e o acompanhamento feito com estes pacientes, como o caso da paciente Sofia Lacerda, acometida pela Síndrome de Berdon, que causa a má formação de vários órgãos do sistema digestivo. Antes de realizar o transplante com o Dr. Vianna, Sofia foi submetida a três procedimentos cirúrgicos no Brasil, mas ainda necessitava de atendimento especializado para a síndrome rara e para o transplante multivisceral, que não poderia ser realizado no país. A complexidade do procedimento se deu em razão do estado avançado da doença hepática e pela pouca idade da paciente, que tinha um pouco mais de 1 ano na época. Ela recebeu transplantes de estômago, fígado, pâncreas, intestino delgado e cólon.
Sobre o pós-operatório, o Dr. Rodrigo Vianna salientou que as primeiras 72 horas são as mais críticas, com riscos de complicações cirúrgicas e infecciosas ao longo da primeira semana. O controle medicamentoso de prevenção de rejeições envolveu, no caso de Sofia, mais de 20 remédios diferentes.