A edição da última quinta-feira (27) de mais uma Jornada de Cirurgia foi marcada pelo público, que preencheu o auditório Xavier Sigaud para discutir as inovações da Cirurgia Neurológica, em atividade coordenada pelo Acadêmico Paulo Niemeyer Soares Filho.
O Acadêmico Carlos Telles, fundador da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro, apresentou conferência intitulada “Cirurgia da Dor”, caracterizando a dor crônica como aquela que persiste ou recorre por mais de 3-6 meses, em geral acompanhada por alterações físico-químicas. Segundo o Acadêmico, o tratamento da dor crônica tem como objetivo o alívio da dor por meio do tratamento eficaz direcionado para os sintomas, proporcionando melhora da qualidade de vida do paciente.
Dentre as opções de tratamento disponíveis, abordou o tratamento clínico-medicamentoso, bloqueios anestésicos, a psicoterapia coadjuvante e a cirurgia, destacando que a escolha do tratamento deve se basear no que se mostrar mais eficaz para o paciente, com o mínimo de complicações. Apresentou, então, o trabalho desenvolvido na Clínica de Dor do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), destacando a atuação da equipe multidisciplinar no tratamento de morbidades como neurites pós-hepáticas, síndrome pós-discectomia e nevralgia do trigêmeo.
Em seguida, o Dr. Daniel Cavalcanti (IECPN) abordou “Cirurgia das Malformações Vasculares Cerebrais”, dando especial destaque para os Cavernomas – segunda malformação cerebral mais frequente, caracterizada pela presença de lesões vasculares que se desenvolvem e crescem dentro do cérebro, compostas de vasos sanguíneos que, por sua fragilidade, podem vazar sangue ou se romperem.
Sobre tratamento, destacou que a cirurgia é considerada o padrão ouro para Cavernomas com hemorragia recente, em expansão e/ou causadores sintomas, como convulsões. A ressecção cirúrgica se dá por meio de uma craniectomia, em geral sob anestesia geral do paciente, exceto nos casos em que a vigília é necessária para o mapeamento do cérebro. Foram apresentadas as ferramentas cirúrgicas mais frequentemente utilizadas, como o microscópio e a neuro-navegação cirúrgica, guiada por imagens de ressonância. Por fim, destacou a busca por métodos de tratamento menos invasivos, que possam permitir o controle das lesões.
Abordando “Cirurgia dos Movimentos Involuntários”, o Dr. Paulo Luiz Cruz discorreu sobre a história da área, salientando a importância da atuação do Dr. Paulo Niemeyer, primeiro médico na América Latina a realizar cirurgias para acabar com os movimentos involuntários em pacientes com Mal de Parkinson. Em seguida, reuniu dados sobre o aperfeiçoamento das diferentes técnicas cirúrgicas existentes, como a talamotomia e palidotomia estereotáxica realizadas por radiofrequência, e a estimulação cerebral profunda (ECP).
Discorreu, então, sobre Distonia, que se caracteriza como uma desordem neurológica causadora de espasmos musculares involuntários, resultando em movimentos repetitivos e postura anormal. Sobre o tratamento, preconizou a necessidade de acompanhamento do paciente por equipe multidisciplinar, afirmando que pacientes mais jovens, com menor tempo de exposição à doença e tratamento precoce, apresentam uma melhor resposta à cirurgia. Por fim, apresentou as estatísticas relacionadas à experiência do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, que já realizou mais de 287 cirurgias de movimentos involuntários.
Representando também o IECPN, o Dr. Gabriel Mufarrej apresentou aula sobre “Cirurgia da Epilepsia”, destacando que a criação de um Centro especializado no tratamento da Epilepsia sempre foi um dos objetivos do Dr. Paulo Niemeyer, materializado hoje no Instituto Estadual do Cérebro. O distúrbio, caracterizado pela perturbação da atividade das células nervosas do cérebro, afeta não só a saúde do paciente, mas sua qualidade de vida de forma geral, principalmente nos casos mais graves onde não há resposta ao tratamento medicamentoso.
Quando as crises não são controladas pelo tratamento medicamentoso, o paciente é submetido a uma avaliação para a cirurgia. As cirurgias de epilepsia podem ser classificadas de acordo com a técnica utilizada, podendo envolver a remoção da área cerebral que está produzindo as crises ou a interrupção do caminho do nervo, ao longo do qual os impulsos que originam as crises se espalham. Procedimentos cirúrgicos como a calosotomia podem ser indicados para tratar epilepsias severas cujas crises iniciam em um hemisfério e se propagam para o outro.