A Academia Nacional de Medicina realizou na quinta-feira (01) mais uma edição do evento Uma Tarde na Academia: Oficina Diagnóstica, idealizado pelo Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo e organizada pelos Acadêmicos José Manoel Jansen, Carlos Basílio de Oliveira e José Galvão Alves. O tema escolhido para a Sessão desta quinta-feira foi um caso clínico de cirurgia, coordenada pelo Acadêmico Pietro Novellino. Como apresentador do caso, foi convidado o Dr. Alexandre Virla (Unirio), além dos Drs. Pablo Magalhães e Maria Morard, como debatedores do caso.
Após a abertura do evento pelo Presidente Francisco Sampaio, o Acadêmico Pietro Novellino iniciou os trabalhos, convidando o apresentador Alexandre Virla para fazer a apresentação do caso: uma paciente de 24 anos, negra, sexo feminino, casada, natural do Rio de Janeiro onde reside. A paciente relatou que em 2010, ao realizar exame admissional, foi detectada uma imagem no mediastino, na radiografia do tórax. Foi submetida a uma tomografia computadorizada de tórax em Hospital Peridomiciliar que evidenciou imagem de 3,0 x 1,5 cm localizada na região paracardíaca à direita. Procurou atendimento na Santa Casa do Rio de Janeiro onde vinha em acompanhamento regular com Tomografias computadorizadas do tórax seriadas. No início de 2013, começou a referir sintomas respiratórios e foi evidenciado um aumento da lesão no controle tomográfico. A paciente tinha intensa atividade física e passou a não mais tolerar esforço físico. Foi encaminhada ao Serviço de Cirurgia Torácica do HUGG- UNIRIO, para prosseguir a investigação e avaliação cirúrgica.
No histórico patológico da paciente, constava: uso de contraceptivos, ausência de alergias, hemotransfusão pós-parto (cesariana). O histórico fisiológico apontou que a paciente foi nascida a termo, parto vaginal hospitalar; aleitamento materno; crescimento e desenvolvimento normais; ciclo menstrual regular, com fluxo normal e duração de 3 a 4 dias; Gestação gemelar aos 15 anos. Por fim, o histórico familiar apontou que a paciente possuía mãe hipertensa, falecida aos 58 anos devido a câncer de útero e pai vivo portador de DM.
Após a realização de exames físicos, foram apresentados os seguintes resultados:
A evolução da paciente indica que, após videotoracoscopia direita para diagnóstico e avaliação da ressecabilidade da lesão, a mesma recebeu alta no 3º dia após retirada do dreno torácico. Todavia, foi relatado retorno no 5º dia pós-operatório com quadro de dor abdominal de moderada intensidade, principalmente no hipocôndrio direito, sem irradiação, associada à dispneia aos médios esforços. Foram, então, realizados novos exames:
Em seguida, o Professor Carlos Alberto Basílio de Oliveira fez a análise patológica do caso, apresentando também a anatomia da região do mediastino.
Os debatedores do caso passaram, então, a analisar as possibilidades de diagnóstico do caso, levando em consideração os dados apresentados e as características da paciente. A Professora Maria Morard apresentou os métodos diagnósticos mais utilizados para a região do mediastino – diagnóstico topográfico, diagnóstico etiológico e diagnóstico de operabilidade. Depois, dividiu-os entre métodos não-cirúrgicos (endoscopia per-oral, cintigrafia, ecografia, análises laboratoriais, punção percutânea, testes cutâneos) e métodos cirúrgicos (biópsia ganglionar extratorácica, punção aspirativa transtorácica, mediastinoscópica transcervical, mediastinotomia anterior, minitoracotomia, videotoracoscopia e toracotomia exploradora).
O diagnóstico apresentado foi o de Síndrome de Budd-Chiari, que constitui uma interrupção ou diminuição do fluxo sanguíneo normal de saída do fígado em qualquer nível das veias hepáticas ou da veia cava inferior, caracterizada por hepatomegalia, hipertensão porta e em alguns casos rápida deterioração da função hepática. No caso apresentado, estavam presentes três fatores de risco para trombose: uso de contraceptivos orais, cirurgia e neoplasia.
Na evolução do caso, foi apontada: internação no CTI; anti-coagulação plena com heparina não fracionada; Warfarin; diuréticos de alça; paracentese de alívio. A paciente teve alta do CTI no 5º dia de internação, sendo transferida para enfermaria. Em seguida, foi observada a melhora dos sintomas, com diminuição da ascite.
Após intensa participação dos Acadêmicos presentes, o Acadêmico Pietro Novellino encerrou mais uma edição do evento, agradecendo a todos os presentes e reforçando que a participação e a presença dos alunos são os elementos mais importantes para iniciativas como Uma Tarde na Academia, que visam aproximar a instituição do público mais jovem.