Na quinta-feira 23 de junho, diversos aspectos da obesidade foram apresentados em Simpósio organizado pela Acadêmica Eliete Bouskela, importante pesquisadora do Laboratório de Pesquisas em Microcirculação (LPM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A Profa. Beatriz D’Agord Schaan (UFRGS), fez palestra sobre “Riscos Cardiovasculares em Adolescentes e Obesidade”, apresentando os trabalhos do ERICA (Estudos de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes), cujo objetivo é estimar a prevalência de fatores de risco cardiovascular, de síndrome metabólica e de marcadores de resistência à insulina em adolescentes de 12 a 17 anos. Com o objetivo de testar os instrumentos e equipamentos que serão utilizados na pesquisa nacional, o ERICA realizou estudo piloto em cinco cidades: Rio de Janeiro, Cuiabá, Feira de Santana, Campinas e Botucatu. A partir desse estudo, foi identificada prevalência de fatores de risco cardiovascular como sobrepeso/obesidade, diabetes, pressão arterial elevada e sedentarismo.
Na conclusão de sua palestra, a Profa. Beatriz Schaan afirmou que o trabalho do projeto também diz respeito à conscientização da população a respeito de hábitos considerados “perigosos” para uma rotina de alimentação saudável, como comer em frente à televisão – aproximadamente 50% dos adolescentes passam mais de 3 horas por dia em frente ao computador, videogame ou televisão, sendo que destes, 10% relataram passar mais de 7 horas por dia. Além disso, os resultados obtidos pelo ERICA poderão ajudar a reorientar as políticas públicas de educação e saúde voltadas para os jovens brasileiros, a partir da identificação de vulnerabilidades e necessidades dessa população.
Em seguida, o Prof. Dr. Walmir Coutinho (PUC-RJ) proferiu palestra intitulada “Avanços na Farmacoterapia da Obesidade”. Os estudos apresentados comprovam que, paralela a uma considerável facilidade de se perder peso existe uma tendência quase inexorável de recuperação do peso perdido, justificada pelo fato de que o corpo busca recriar a reserva de energia anteriormente perdida. O Professor demonstrou, ainda, que a perda de peso, quando acompanhada de uma mudança de estilo de vida, apresenta resultados muito melhores. Ainda assim, mais da metade dos pacientes que buscam tratamento para a obesidade necessitam da utilização de fármacos – não tanto para perda de peso, mas para auxiliar na manutenção desta perda. Sobre as opções de fármacos disponíveis, Walmir Coutinho chamou atenção para o fato de que todos agem sobre o sistema nervoso central e destacou o fármaco Liraglutida, recém aprovado pela ANVISA.
Na conclusão de sua palestra, o Prof. Dr. Walmir Coutinho ressaltou que a combinação de fármacos apresenta um perfil promissor de eficácia e segurança. Além deste fato, a farmacogenômica, em fase de estudos preliminares, tem analisado marcadores que podem ajudar a prever respostas aos tratamentos de obesidade, se apresentando como um caminho para maximizar a eficácia do tratamento farmacológico da obesidade.
A respeito do “Impacto Econômico das Doenças Relacionadas à Obesidade”, o Prof. Dr. Denizar Vianna (UERJ) apresentou dados que buscaram determinar o “custo” de doenças associadas à obesidade para o sistema único de saúde. A epidemia de obesidade – implacável em países de alta renda e emergente em muitos países de renda média – tornou-se tão grave que, apesar dos constantes avanços da medicina, as crianças de hoje podem ter uma expectativa vida menor que a de seus pais. Segundo Walmir Coutinho, a obesidade está para o século XXI assim como o tabaco está para o século XX, chamando atenção para o fato de que uma mulher obesa tem, em média, dez vezes mais risco de desenvolver uma doença como a diabetes tipo 2. Segundo o Professor, enquanto a “métrica” de doenças causadas pelo tabagismo (como o câncer de pulmão) se dá em escalas de mil, a de doenças causadas pela obesidade se refere a escalas de milhões de pessoas.
O Prof. Dr. Denizar Vianna concluiu sua palestra chamando atenção para o fato de que grande parte da epidemia se deve a uma tendência cada vez maior das pessoas comprarem comida processada fora de casa, muitas vezes incentivadas por uma política de mercado que incentiva o consumo desmedido de alimentos. Por fim, o Professor afirmou que uma “frente de batalha” puramente médica não poderia reverter o atual quadro da epidemia de obesidade, apresentando como sugestão o subsídio, por parte dos governos, de alimentos saudáveis, de forma a estimular a população a comer de maneira mais saudável. Incentivos financeiros como estes, quando não são exagerados, podem influenciar o comportamento do indivíduo sem limitar suas escolhas.
A Prof. Dr. Ana Lydia Sawaya abordou “Vício Alimentar” a partir de uma perspectiva histórica, apresentando a evolução do processamento de alimentos e seus principais efeitos para a fisiologia. Segundo a Professora, o controle nervoso da ingestão alimentar evoluiu em um período em que ingredientes como açúcar, gordura e sal eram de difícil obtenção, ao mesmo tempo que permitiam um ganho de peso maior e garantiam melhor sobrevivência. Todavia, a década de 1980 inaugurou uma nova cultura dentro da indústria alimentícia, que desenvolveu estratégias para estimular os centros hedônicos (beleza dos alimentos, estudo das cores, uso de estimulantes do sabor, etc.). A partir deste marco, a ingestão destes produtos alimentícios resultou no desenvolvimento de um apetite particular, que gera emoções positivas que aumentam a motivação para obtê-los – a ingestão é incentivada por estímulos chamados salientes, ou seja, sua lembrança ou presença dominam o pensamento e o interesse por buscá-los.
Segundo a Professora, muito mais importante do que entender o aumento no consumo de alimentos é entender o tipo de alimento que teve seu consumo aumentado e quais as motivações que levaram a este fato. Um exemplo de ciclo contemporâneo é aquele causado por estresse; segundo a Professora, as respostas fisiológicas do corpo ao estresse crônico geram uma adaptação metabólica que favorece a preferência por alimentos ricos em açúcar e gordura que, através da ativação do cortisol, direcionam o fluxo de substratos para síntese de gordura abdominal.
Após o chá Acadêmico, o Prof. Dr. Egberto Gaspar de Moura (UERJ) deu início à segunda etapa de apresentações sobre o tema, proferindo palestra sobre “Importância da Amamentação na Prevenção da Obesidade”. O Professor sinalizou que mamíferos, como nós, sinalizam para a prole o ambiente em que se encontram, permitindo uma adaptação preditiva para este ambiente. Um fator que possivelmente influencia na relação entre amamentação e menor risco de obesidade é a presença do hormônio leptina no leite materno. A leptina age na inibição do apetite e no processamento dos nutrientes pelo metabolismo, apesar de sua administração ter pouco efeito sobre o peso corporal em obesos.
Na conclusão de sua palestra, o Prof. Dr. Egberto Gaspar de Moura afirmou que, de acordo com os estudos apresentados, a leptina e prolactina são fundamentais como fatores de marcação epigenética na lactação, programando a adiposidade, a homeostase glicêmica e o perfil lipídico. Pequenas alterações nos fatores de marcação epigenética levam a diversos tipos de programação, explicando a diversidade de co-morbidades associadas a obesidade. Apesar deste fato, a resistência à leptina parece ser um fenômeno comum na programação.
Abordando o tema “Marcadores Precoces de Aterosclerose em Resistência à Insulina e Obesidade”, o Prof. Dr. Luiz Guilherme Kraemer de Aguiar apresentou a doença, que é uma condição em que ocorre o acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias, restringindo o fluxo sanguíneo e podendo levar a graves complicações de saúde. Dentre os fatores de risco considerados “clássicos”, é possível ressaltar: pressão arterial elevada, colesterol alto, diabetes, obesidade, tabagismo, histórico familiar de doença cardíaca, sedentarismo e doenças renais crônicas.
Após a apresentação de diversos estudos sobre a evolução da doença associada à resistência à insulina, o Prof. Dr. Luiz Guilherme Kraemer de Aguiar concluiu sua explanação afirmando que o surgimento de novos fatores de risco associados a síndromes metabólicas constituem um crescimento considerável da população vulnerável a patologias cardiovasculares. A procura por ferramentas mais precisas e mais precoces para estratificação de risco e o papel de intervenções nessas ferramentas podem auxiliar na redução de risco cardiovascular dessa população.
A respeito de “Microbiota Intestinal, Obesidade e Resistência à Insulina”, o Prof. Dr. Mario José Abdalla Saad iniciou sua palestra afirmando que as causas da obesidade podem estar relacionadas a três marcadores (não independentes): genética, fatores ambientais e a microbiota. O Professor passou, então, a apresentar uma série de estudos experimentais que têm por objetivo desvendar mecanismos que ligam a flora intestinal e resistência à insulina. A experimentação de diferentes dietas e a observação dos efeitos de diferentes probióticos formaram a base da apresentação do Prof. Dr. Mario José Abdalla Saad.
Por fim, foram apresentadas novas associações e perspectivas no estudo da microbiota, como o estudo das drogas que modulam a flora (metformina, antipsicóticos atípicos como clozapina e olanzapina), das drogas moduladas pela flora (digoxina) e a possível associação com doenças crônicas como a osteoporose e a hipertensão arterial.