1 Dra. Olivia Zin.
2Dr. Rubens Belfort Jr.
- Médica Oftalmologista pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Atualização profissional em Uveítes e Genética Ocular pelo Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).
- Membro Titular da Academia Nacional de Medicina, Professor Titular de Oftalmologia, Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).
Por que a vista cansada ocorre?
O olho funciona como uma máquina fotográfica, possui lentes e mecanismos de foco que trabalham continuamente para garantir uma imagem com a maior nitidez possível. Funciona perfeitamente nas crianças e adultos jovens, independente do grau de óculos da pessoa. Isso mesmo, até jovens que precisam de óculos para enxergarem bem, possuem um grande poder de acomodação, apenas o foco ocorre em um local inadequado do olho.
Com o envelhecimento, esse maquinário vai “enferrujando” e nossos olhos perdem a capacidade de se adaptarem a qualquer distância de foco – a famosa vista cansada ou presbiopia. Os primeiros sintomas são a necessidade de esticar os braços a fim de aumentar a distância entre os olhos e o que se deseja ler. Isso ocorre, pois quanto mais perto está algo dos nossos olhos, maior é o esforço de acomodação destes. Sendo assim, ao se esticar os braços, aumentamos a distância e diminuímos o esforço necessário para leitura.
Eventualmente, a leitura de perto que era apenas desconfortável, torna-se impossível e há necessidade de uso de óculos com um grau para perto. Importante ressaltar, que o grau apenas ajuda a focar em determinada distância, mas não recupera o perfeito funcionamento do maquinário de foco. Sendo assim, apesar do uso de óculos com grau para perto, ainda é necessário encontrar a distância de leitura que permite uma imagem mais nítida.
Como escolher os óculos para pessoas com presbiopia?
Caso a pessoa já faça uso de óculos para longe, pode-se indicar os óculos multifocais, ou seja, óculos que possuem um grau de longe e de perto. Inicialmente, a adaptação a esses óculos pode ser um pouco difícil, porém algumas dicas ajudam em um maior conforto com essas lentes.
A primeira (e mais importante!) é: escolha uma armação com lentes grandes e altas. Isso porque, nos multifocais, para enxergar para longe, deve-se usar a parte superior da lente, enquanto para perto a inferior. Sendo assim, quanto maior a lente, mais suave será a transição. Lentes estreitas, além de dificultarem a transição entre um grau e outro, também tornam muito pequena a região de foco de determinado grau na lente.
Esquema com exemplo das diferentes áreas de visão de uma lente multifocal.
Fonte: Refratometria Ocular e Visão Subnormal, Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018.
Todas as lentes multifocais terão regiões de distorção da imagem nas laterais, logo, não se deve tentar enxergar pelas laterais. Diferentes marcas e modelos de lentes fornecem maior ou menor campo de distorção, então converse com o ótico e escolha uma lente multifocal que se adeque à sua rotina e expectativa. Lentes com maior campo de visão são ideais, porém esta tecnologia pode custar caro. Sendo assim, procure um profissional de confiança que entenda os seus desejos, mas também as suas limitações. Existe sempre a possibilidade de não se adptar.
Todos podem usar óculos multifocais?
Não são todas as pessoas com presbiopia e grau prévio para longe que possuem indicação de usar óculos multifocais. As principais situações que dificultam a adaptação a estes são a existência de altos graus de astigmatismo ou grandes diferenças de grau de um olho para o outro. De acordo com cada caso, pode-se tentar uso de óculos bifocais, ou seja, aqueles que não apresentam uma transição suave de um grau para o outro, sendo a diferença bem delimitada nas lentes. Outra solução é fazer dois óculos separados – um de perto e um de longe.
Desenho de óculos bifocais, evidenciando regiões bem delimitadas de visão de perto e de longe.
Fonte: : Refratometria Ocular e Visão Subnormal, Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2018.
O grau de perto aumentará para sempre?
Não. Como o mecanismo de foco dos olhos vai perdendo sua força aos poucos, a tendência é que o grau de perto também vá lentamente aumentando. Muitos pacientes se assustam com a progressão, porém há um limite para esta. O máximo de grau de perto que podemos precisar é de uma adição de + 3,00 ao seu grau de longe. Uma vez atingido esse valor, significa que já ocorreu toda a perda possível de acomodação e o grau não irá mais aumentar.
Não estou me adaptando aos meus novos óculos multifocais. E agora?
A adaptação aos multifocais pode ser difícil no início, porém ao se seguir essas recomendações, a chance de sucesso é maior. No entanto, caso o desconforto persista, procure o seu oftalmologista para maiores orientações. A dificuldade pode ser resultado não só da necessidade de adaptação a uma nova tecnologia, como também de erros na montagem dos óculos ou na própria prescrição.