“Agora é hora de uma campanha pela ‘vacina já!’ A vacinação como parte de um programa sólido de luta para termos um menor número de perdas e de prejuízo na economia”, enfatizou o presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), Rubens Belfort Jr., na abertura da Sessão Extraordinária, “Evidências científicas e Covid-19: Propostas para enfrentar o terrível cenário que se anuncia e o papel das entidades científicas e academias”, realizado dia 22 de dezembro de 2020, pelas plataformas on-line da ANM.
Na oportunidade, o presidente também destacou a importância do esclarecimento da população em relação à vacina. “Não será uma batalha fácil, pois temos um governo vazio, com características de acefalia e comportamentos nefastos que fazem um desserviço a população. E, a sociedade precisa de bons exemplos. Hoje, os meios de comunicação mudaram e temos capacidade de multiplicar informação científica relevante até através de influencers das redes digitais. Uma vez que o afastamento social, desses novos tempos, nos impede de usar mecanismos como atos públicos para sensibilizar os governos e a sociedade sobre a importância da vacinação”, enfatizou Belfort Jr.
Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, é fundamental que as academias e entidades de classe científicas saiam de “suas bolhas”, ou seja, dos debates apenas com os pares e falem diretamente com a população.
“A educação básica é fundamental no país. A questão da desigualdade social atrapalha a disseminação do conhecimento e, consequentemente, a democracia. Mas a solidariedade e a empatia podem salvar vidas. É hora de buscarmos alianças para educar e propagar informação correta para a sociedade, esclarecer como funciona a ciência, uma vez que temos um governo que não ajuda. Pelo contrário, temos autoridades que aparecem em público sem usar máscaras de proteção e propagam que as vacinas podem ter efeitos colaterais alucinantes, numa tarefa totalmente deseducativa”, desabafa Davidovich.
Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras, engrossou o coro sobre o momento estratégico que estamos vivendo e afirmou que é necessário fazermos uma releitura de tudo que realizamos até agora. Lucchesi também esclarece que aliança é mais que consenso, e as estratégias de vacinação devem ser elaboradas com sabedoria e de forma laica.
“A religião que não dialoga com a ciência presta um enorme desserviço à população! Não busquemos o que nos separa. É o momento de esquecer o que nos separa, pois adesões políticas nesse cenário são suicidas e camicases. Não vamos abrir trincheiras e sim criar alianças. Criar possibilidades inteligentes de aproximação e diálogo,” sugeriu o presidente da ABL.
“Fomos atingidos por um meteoro, essa é a sensação que a pandemia do novo coronavírus nos deu. Mas precisamos destacar a grande quantidade de conhecimento científico produzido nesse período, sem precedentes” enfatizou o presidente da Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil, Acácio Sousa Lima.
Segundo Acácio, nesse turbilhão, a produção de vacinas passa a ser o foco de grandes laboratórios da indústria farmacêutica, “mas todos nós, de alguma forma aprendemos a utilizar os recursos tecnológicos disponíveis, até mesmo para estarmos aqui nesse debate tão rico”, finalizou.
Entre as propostas para enfrentar o terrível cenário que se anuncia na vacinação em massa contra covid, os convidados levantaram ainda a importância de um plano nacional de enfrentamento da doença com uma coordenação unificada com baseada no SUS e no Programa Nacional de Imunizações. Além disso, vários palestrantes abordaram o pleito de mais recursos para o SUS e a ameaça de cortes de cerca de R$ 40 bilhões na saúde pública em 2021, o que está em votação no Congresso Nacional.
O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes, falou que a vacinação contra covid-19 no Brasil não pode ser partidarizada em detrimento do interesse da população nesse momento de tragédia. Comentários que foram ampliados pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu de Castro Moreira, que ponderou a importância de alianças das entidades científicas e Academias contra o obscurantismo e as fake news.
O vice-presidente da Federação Brasileira de Academias de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, questionou os cerca de 150 participantes sobre o momento no qual a sociedade brasileira falhou em uma educação e saúde para todos. “Estamos vivendo uma tempestade perfeita. Não há educação, não há política sanitária, não há economia e como vamos sair dessa?” A presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciência, Helena Nader, complementou lembrando que, há cerca de 100 anos, o mundo viveu a epidemia da Gripe Espanhola e nós não aprendemos com o passado e continuamos errando. “Temos que olhar em frente para o meio ambiente, a educação e os próximos vírus que estão vindo da Amazônia e podem ser futuras ameaças para a saúde pública.”
O diretor científico da AMB, José Eduardo Lotaif, reforçou o papel essencial das instituições de ciência e saúde como os alicerces em prol de um bem comum. E por fim, a pesquisadora Gulnar Azevedo, da Abrasco, pontuou de forma bastante crítica o descaso do Governo pelas 70 recomendações elaboradas por várias instituições para o enfrentamento da covid-19 e que até hoje não foram implementadas pelo Ministério da Saúde. E por fim, disse: “O Brasil precisa do SUS. Vacina já para todos e todas.”