A Academia Nacional de Medicina (ANM), ao lado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), são as instituições brasileiras signatárias do “A Call for Action to Strengthen Healthcare for Hearing Loss”, documento de repercussão mundial, publicado recentemente pelo Painel Médico Interacademias (IAMP*, na sigla em inglês), com orientações para a prevenção do déficit auditivo.
O “A Call for Action to Strengthen Healthcare for Hearing Loss” (em tradução livre: “Um chamado para ação pelo fortalecimento da prevenção contra a perda de audição”) do IAMP, alerta, entre outros, para o fato que, em todo o mundo, 360 milhões de pessoas sofrem de perda de audição – incluindo 32 milhões de crianças. Se a doença não for diagnosticada e tratada, adverte o documento, crianças que sofrem desse mal geralmente acabam apresentando atrasos no desenvolvimento da fala, da linguagem e de habilidades cognitivas. Isso provoca efeitos em cadeia, tais como dificuldades de aprendizagem na escola e na interação com a família e amigos.
“Os números são preocupantes, mas muitas das condições que levam à perda auditiva podem ser detectadas evitadas ou tratadas”, afirma Manfred Gross, do Departamento de Audiologia do Campus Virchow-Klinikum (linguagem, fala e audição), de Berlim, Alemanha. Testes simples em recém-nascidos, por exemplo, podem revelar problemas de audição. Vacinas infantis, tomadas regularmente, que previnem doenças como a rubéola, podem evitar complicações que levam à perda auditiva.
O documento do IAMP apela para que os governos e demais agentes envolvidos com cuidados de saúde implementem uma série de práticas, como:
– uma melhor oferta de cuidados de saúde na área da perda auditiva, como a realização universal de exames em maternidades e aumento do acesso a aparelhos e implantes auditivos;
– assegurar medidas de saúde pública voltadas para as causas de perda auditiva;
– endereçar os cuidados com a perda auditiva a crianças e adultos reconhecendo as diferenças entre esses grupos.
Entre os adultos, estima-se que cerca de dois terços das pessoas com mais de 70 anos sofrem de perda auditiva, com evidências indicando que este déficit está relacionado a um maior risco de demência. Medidas simples, como reduzir a exposição ao barulho no local de trabalho pode evitar o comprometimento da função auditiva.
A despeito das diversas soluções disponíveis para o diagnóstico e tratamento da perda auditiva, o problema persiste, especialmente nos países em desenvolvimento, onde a consciência dessas questões e o acesso a cuidados médicos adequados são, muitas vezes, limitados. “O fato de que muitos dos problemas associados à perda auditiva são evitáveis significa que já temos soluções”, afirma Lai Meng Looi, da Academia de Ciências da Malásia e co-presidente do IAMP. “Em muitos casos, especialmente em países de baixa e média renda, o desafio não é apenas o financiamento, mas também aumentar a consciência. Isso é o que nós esperamos fazer com essa declaração.”
O grupo de trabalho responsável pela revisão da declaração do IAMP “A Call for Action to Strengthen Healthcare for Hearing Loss” foi:
– Vicente G. Diamante, Argentina
– Ricardo F. Bento, Brasil
– Gao Zhiqiang, China
– Alejandro Torres Fortuny, Cuba
– Josef Syka, República Checa
– Claude-Henri Chouard, França
– Hans-Peter Zenner, Alemanha
– Otmar Schober, Alemanha
– Annette Grüters-Kieslich, Alemanha
– Tibor Zelles, Hungria
– Sandra Kuske, Latvia
– somefun Oladapo Abayomi, Nigéria
– Charlotte Chiong, Filipinas
– Daniel C. de Wet Swanepoel, África do Sul
– Mohamadou Guelaye Sall, Senegal
– Mark P. Haggard, Reino Unido
*O IAMP, uma rede global de Academias de ciência e de medicina, tem como missão trabalhar pela melhoria da saúde global, fortalecendo a capacidade das Academias de prover os governos de informação científica consistente que possa subsidiar as políticas de saúde pública. Também apoia a criação de novas Academias e dá suporte a projetos de seus membros voltados para o fortalecimento da pesquisa e da educação superior em seus países. Atualmente, o IAMP conta com 73 Academias de todo o mundo, incluindo as brasileiras Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC).